segunda-feira, 10 de abril de 2017

Winona, Marry Me, Please

O seguinte texto é a história de uma obsessão.

Começou em 2008. Eu tinha entre doze ou treze anos, se me lembro bem, e estava no trabalho do meu pai, fazendo companhia. Era uma daquelas tardes calorosas –no mau sentido- do verão brasileiro e durante muito tempo eu preferi passar as tardes no trabalho do meu pai do que na escola. Bom, no trabalho do meu pai tinha um computador para jogar tetris e googlar, além de ser possível olhar amostras de rochas sempre que eu quisesse, o que era um barato só. Além disso, fiz um amigo na divisão de comunicação da empresa, o Jonusan, e as vezes ficava a tarde toda conversando com ele sobre futebol. Um dia, numa dessas conversas, notei que em sua mesa pairava um porta-retrato de uma mulher absolutamente estonteante, com um sorriso que nunca mais me saiu da memória:

- É sua esposa? – perguntei
- Não, meu camarada. É a Winona Ryder. – respondeu ele, com os olhos brilhando
- Quem é ela?
- Uma atriz. Linda demais, né?
- Cara, ‘’linda demais’’ não chega nem perto de ser uma hipérbole (isto foi bem na época que eu estava aprendendo figuras de linguagem). Mas ‘’pera’’, você não é casado?
- Sou. Mas a mulher da minha vida sempre foi Winona.
- Entendi... Cara, tem como você me dar essa foto?
- Essa não, mas toma uma nova – finalizou Jonusan, categoricamente, abrindo uma gaveta cheia de fotos de Winona.

Levei a foto de Winona para casa com sigilo total, eu ainda precisava saber se aquilo era realmente amor. Por precaução, a deixei colada na contra-capa de meu caderno de matemática, até então o meu bem mais valioso. Em poucos dias virou regra: olhar para Winona sempre que me sentisse para baixo. Aliás, em poucos dias, também, deixei de me enganar e decidi que estava apaixonado por Winona Ryder, e mais, decidi criar um fã-clube em sua homenagem. Sim, foi o único fã-clube que criei ou participei. Seu nome? Como eu poderia esquecer. Era ‘’Winona Marry Me Please’’ (Winona Por Favor Case Comigo), mas eu chamava de WMP, para facilitar, sabe. Logo após a criação, mal pude esperar para contar a novidade na escola:

- Cara, criei um fã-clube, quer entrar?
- Fã-clube? De quem?
- Da Winona Ryder.
- Quem?
- Winona Ryder, pô.
- Nunca ouvi falar.

O ‘’nunca ouvi falar’’ proferido pelo meu amigo me deixou ultrajado, quase me embrulhou o estômago. Como ele podia não saber quem era ela? Procurei outros ‘’parceiros’’ para convidar para o fã-clube e nenhum, absolutamente nenhum, conhecia Winona. Aquilo acabou com meu humor e disposição, até então a única regra para ingressar no WMP era, simplesmente, amar Winona Ryder, mas essa realidade estava prestes a mudar. Ninguém a amaria de verdade como eu e por isso eu nunca mais iria mencionar a existência do WMP para ninguém, e no final das contas, era até melhor porque ‘’eliminava a concorrência’’, concluí.

Com esta nova regra, o WMP espreitou-se pela surdina dos anos, mas nunca saiu de atividade. Cansei de contar a noites em que não conseguia dormir e ia pesquisar no Google coisas como ‘’qual a cor favorita de Winona Ryder?’’ ou ‘’Winona Ryder fala português?’’ ou das horas imensas que gastei riscando e rabiscando uma carta que lhe enviaria quando eu completasse dezoito anos (na minha cabeça, a carta teria que ser enviada com esta idade, pois com dezoito anos nenhum empecilho legal ficaria no nosso caminho. Preciso dizer que eu achava que ela aceitaria?).
Entretanto, foi justamente com dezoito anos que, um dia, decidi jogar a toalha:

- Cara, desisto. Eu nunca vou conhecer a Winona mesmo.
- Tá maluco, seu idiota? – respondeu minha versão de doze ou treze anos- Nós não prometemos amar a Winona eternamente? É isso, então? Você vai trair o WMP?
- Não, cara, não é nada disso, só acho muito difícil isso tudo se concretizar. Ela nem mesmo sabe que eu existo!
- E daí? – retrucou eu mesmo, categoricamente- Os dinossauros também nunca vão saber que a gente existe e ainda assim os amamos. Você vai abandonar os dinossauros, também, agora?
- Tá maluco, é? Jamais!

O argumento utilizado pela minha versão mais jovem foi soberano: eu jamais desistiria de Winona. Entretanto, preciso admitir, tivemos nossas crises:

- Ah, então é isso, né? Você vai mesmo me trocar por essa tal de Natalie ‘’Portway’’?
- ‘’Man’’, é ‘’Portman’’. – respondia eu para minha projeção imaginária de Winona
- Você vai mesmo me corrigir?
- Desculpa, amor. Eu jamais te trocaria, você sabe.


Mesmo com crises, amor verdadeiro é aquele que perdura. Winona continua sendo minha musa inspiradora e o WMP continua em atividade, porém funcionando em períodos sabáticos. Ainda assim, ninguém pode entrar nele, regras são regras. A obsessão, aliás, foi controlada: não há mais pesquisas no Google sobre como virar um ator de Hollywood durante a madrugada. A obsessão hoje se limita ao rosto de Winona no plano de fundo do meu celular, mas até que ponto isso poderia ser uma obsessão, não é mesmo?

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