quinta-feira, 8 de junho de 2017

Padrões de Beleza

Trocando de canais, numa manhã destas, me deparei com um par de jornalistas discutindo um assunto intrigante: o número áureo do rosto do Rodrigo Hilbert. A discussão, absolutamente instigante, me tencionou a pensar a respeito de padrões de beleza (e como estes são vendidos para nós). Desde a mais tenra idade, aparentemente, a maneira com que vemos a beleza alheia nos é moldada, e, metaforicamente, implantada. Ademais, se assim não fosse, porque o loiro de olhos azuis seria tão amado desde o berçário? Se você não acredita em mim tudo bem, nem eu acredito em mim de vez em quando, mas vejamos alguns causos que talvez corroborem tal tese:

Primórdios dos anos 2000 (ou segunda metade da primeira década destes –depois consulto a agendinha-): Conversas alheias entre jovens pré-adolescentes numa sala de aula de um colégio brasiliense. Assunto: beleza humana e seus agregados. Gritaria cada vez mais alta assim que um nome masculino novo é lembrado:

- Kayky Britto! (Nota do autor: acredite, ele era a sensação da época).
- Bonito, mas ninguém barra o Thiago Lacerda.

Resultado: ninguém chega a um consenso. A decisão precisa de um voto de minerva. Alguém diplomático deve ser achado:

- Daniel, quem é a mulher mais bonita que você acha? (primeiro, obviamente, uma pergunta sutil, para ganhar simpatia).
- Fácil. Winona Ryder. – respondi.
- Ahn? Quem? – um coro de vozes femininas ressoou na sala esvaziada pelo intervalo.

O que veio depois foi por mim esquecido (mentira, decidi ocultar por questões de que ninguém conhecia, desafortunadamente, a eterna Kim de Edward Mãos-de-Tesoura, e isso não merece citação). Chegamos à parte que interessa:

- E homem? – me perguntaram, novamente.
- Pierce Brosnan – respondi de peito estufado e orgulhoso. Tem alguém mais bonito e charmoso que o próprio 007? (Segunda nota do autor: Brosnan que, aliás, foi o melhor 'Double-O-Seven'.

- Daniel, deixa pra lá – uma delas me contestou-, a gente tava falando de gente viva, tá?

Acredito que depois desta, a minha fama de estranho deve ter aumentado. Mas, sinceramente, o eterno Bond irlandês é muito mais bonito que o Thiago Lacerda, não? As meninas descartaram minha opinião e também não conseguiram fazer o desempate com os outros meninos, que ficavam repetindo que ‘’homem não acha homem bonito’’. Gosto de pensar que até hoje elas não conseguiram decidir, levarão consigo o fardo desta indecisão para sempre. Esta historieta só está aqui porque ela mostra um ponto: podemos ter discordado quanto à beleza de homens diferentes, mas, ainda assim, estávamos defendendo o mesmo padrão desta. Ora, o Thiago Lacerda pode não usar smoking, portar pistola assassina e pedir Vodka Martini (‘’batida, não mexida’’) mas ele é só uma versão mais nova do padrão de beleza do Pierce Brosnan. Portanto, no fim das contas eu era tão influenciado quanto a gangue de meninas que não conseguiam decidir quem era ‘’o cara’’. Talvez, a única vez em que vi uma pessoa sair deste padrão foi, também na escola, quando um amigo trouxe o cadáver de uma cigarra para aula de Ciências da segunda série. Uma das meninas gritou:

- Eca!!! Que coisa horrível!!!

Aquilo o irritou profundamente, com ele não tinha ‘’padrão’’ e, afinal, ele também era um amante da natureza. Encheu o peito de raiva (e ar) e metralhou:

- Acho a cigarra mais bonita que você.

Vale ressaltar que alguns anos depois ele e a mesma menina tiveram um affair, ou como dizem os catedráticos, fizeram uma ‘’baguncinha’’. Talvez ele tenha sido doutrinado pela dinastia dos padrões de beleza, não sei ao certo, mas o fato foi que ela se tornou muito mais bonita que qualquer cigarra.

Prometo refletir a respeito, quem sabe eu me renda também e reconheça que tudo é padrão de beleza, mas, por enquanto, o idealismo não me permite desistir ainda. Por agora, evito a polêmica, já que muitas já tenho em minha vida, como, por exemplo, o dia em que o Grêmio jogou uma final de Libertadores com Tuta no ataque. Aquilo sim -disso tenho certeza-, estava longe de obedecer a qualquer padrão de beleza.