sexta-feira, 27 de maio de 2022

Turns

Dreaming, one shall say, is the felony of lovers
I lived by the book
- Meanwhile the angels lived for you -
And embraced "there theres" as the crack of years left no leftovers
"Fear it not, child", your Eastern voice blessed me

Delivered was the soul of mine in your hands: I was for long a slave of myself
I, now, believe in you, above all
- And so does heaven, I bet my nickels -
Because you're simply a miracle on Earth
Although no heavenly creatures won't ever be able to describe you enough

The phantasm of your glimpse shall shelter itself
In that box you unveiled and together we named it chest,
Even if you fade away, 
Get erased by the new dreams or the ones unborn,
Even if you become dust, 
A bloody teardrop, a God's forsaken crumble, 
They shall never cease to throb in what is sworn.

Behold the miraculous price of the gift you awarded to me: 
Someone I once knew and met again, like a hurry friend passing dripping lather,
That one some call by the name of 'happiness', 
But to call as "you" I shall ever rather.

sábado, 7 de maio de 2022

Da Gloriosa Vez em que Paùra Fardou pela Seleção

Registros históricos encontrados em primeira-mão expõem que o saudoso e venerável Aprigio Paùra ficou conhecido pelas bandas de São Paulo como o ‘’ beque mais violento e tosco do mundo do football’’. No justo ano de sua estreia pelo honorável e indelével Rio Grande, Paùra teve a honra de ser convidado a compor a honorífica e eterna Seleção Gaúcha de futebol, que estava disputando o finado Campeonato Brasileiro de Seleções Estaduais. Mesmo demais moço e chegado potro na linha de defesa riograndina, Aprigio, obviamente, brilhou cedo: havia jogado apenas dois partidos como titular do Vovô e logo fora convocado para compor o elenco da seleção gaúcha de futebol. Evidentemente, Aprigio nunca fora guasca ‘’que compõe elenco’’, e recusou, evidentemente, a primeira solicitação feita pela federação. Afinal, suar e honrar a camisa do Rio Grande sempre lhe foi mais importante.

Diante da recusa de Paùra, a seleção gaúcha até que não se estropiou demais: logrou excelentes resultados no Campeonato Brasileiro de Seleções Estaduais, com direito a demonstração aos centristas de como se baila o vanerão. Os gaúchos, injusta e covardemente sempre rotulados como criminosos da bola, por jogarem com ‘’violência desproporcional ao jogo’’(segundo as imprensas carioca e paulista), mostraram ao Brazil a essência filosófica do verdadeiro futebol, que é, evidentemente, ‘’trava alta e testa dura’’, chegando facilmente à final do desimportante torneio brasiliense. Por mais excrescente que a participação gaúcha no torneio fosse - única equipa estrangeira do rol-, muitos relatos datados da época revelam que foi uma boa diversão conhecer o estrangeiro. Muitos dos jogadores do Piratini testamentaram, naquele período, que o país vizinho tinha ‘’belas paisagens, pingos saudáveis em todo pasto e doces peculiares (mas nada que supere a rapadura de Santo Antônio da Patrulha)’’, e de certa forma sentiram-se encantados pela experiência de conhecer um país novo. O encantamento durou pouco, e os adversários dos gaúchos geralmente eram rapidamente patrolados, pois assim o jogo se resolvia mais ‘’ligeiro e dava tempo pra bocha’’.

Tudo parecia devidamente nos trilhos para os gaudérios, a participação se dava com requintes de crueldade e excelência portentosa, e a malquista final do torneio de verão brasiliense dar-se-ia diante os ‘’poderosos’’ paulistas. Sim, o escrete do estado de São Paulo era visto como uma potência nacional e durante décadas fora um sinônimo de futebol-arte aos olhos brasilienses, sob a batuta de um desconhecido Arthur Friedenreich, cuja única grande glória, segundo relatos, foi ter tido um penal seu defendido pelo icônico e mitológico Eurico Lara. Aparentemente, Friedenreich pediu a bola do jogo, ao final da partida, ‘’pois jamais queria se esquecer de que teve a honra de ter uma penalidade máxima sua defendida por Lara’’. Segundo os mesmos relatos, a justa pelota ainda vive, e encontra-se repousante no estrangeiro, nos confins do autonomeado ‘’Museu do Futebol’’, em São Paulo. Porém, quer queira ou não, os paulistas não teriam Friedenreich, aposentado um ano antes, para tentar fustigar os gaúchos, e só poderiam se contentar em perder honrosamente, logicamente. Todavia, sabemos que os deuses do futebol possuem um cisma interno entre os ‘’violentos do futebol-força’’, os ‘’encantados do futebol-arte’’ e os ‘’apartidários’’, e justamente por isso a final só poderia ser imprevisível. Os dados da bola seriam lançados à partir do momento em que as equipes adentrassem o bolicho que os paulistas chamavam de estádio.

Era uma quinta-feira quando os gaúchos sofreram um potente revés: um beque classudo e demais gentleman para o ofício machucou-se durante um recreativo e teve de ser cortado. Os relatos mais verossímeis indicam que tratava-se do esbelto Mottin, sujeito afável pertencente ao Grêmio de Porto Alegre. Existem discordâncias de que o atleta cortado tenha sido Mottin, mas se o excluído por lesão era realmente um sujeito ‘’galopante em campo’’ este só poderia ter sido Mottin. O fato inconteste e irreparável é que Mottin teve de voltar para os recantos acolhedores do Piratini, formando uma lacuna desesperadora no miolo da zaga. Os gaúchos sabiam que a presença deveria ser suprida por sujeito altivo e forte, capaz de domesticar os potros paulistas babando futebol-arte. Bola alta pairando em frente à goleira jamais poderia ser opção e para isso alguém disposto a sangrar pela Pátria era mais que necessário: era uma obrigação. Com o rabo entre as pernas e evidente vergonha, a federação gaúcha de futebol emitiu uma nota de convocação em urgência, endereçada, veja só, ao vinhedo dos Paùra. A carta, que foi ser entregue em mãos pelo presidente da Federação, ainda no mesmo dia da lesão de Mottin, foi aberta por um Aprigio obstante e risonho, vendo graça na situação de humilhação do presidente. Obviamente, a abertura foi apenas a título de formalidade, pois sabemos bem que Paùra não era versado em letras: a decisão sempre foi, da infância à juventude, uva ou alfabeto; e as uvas sempre venciam.

O presidente tentou persuadi-lo de todo jeito, o gringo parecia indobrável. Já estava para ir ao bailão com Francesca quando as palavras mágicas lhe foram ditas: ‘’jogaremos contra São Paulo’’. Ao ouvir tal assertiva o bigode do colono empinou sozinho, suas feições não poderiam ocultar surpresa e uma pitada de desafio a ser derrubado (e de carrinho). Paùra nada disse, foi ao seu quarto, pôs uma pequena pilha de roupas numa sacola de pano velho, pediu bênção à Don Facundo e Mamma Pietra e lançou-se direto para São Paulo com o presidente, não sem antes rezar a glória com os pais. Ficou claro assim que Paùra acomodou-se no carro que os levou para Porto Alegre: se o adversário era São Paulo, mesmo que não o rival citadino do Rio Grande, a faixa repousante no peito pela vitória era sempre mais saborosa. Por isso estava lá, para de praxe ganhar de ou do São Paulo.

Chegaram à capital paulista já na sexta-feira e no primeiro treino do dia Paùra já foi escalado como titular. O resultado foi que nenhuma bola entrou em sua área e ainda, involuntariamente, lesionou o dianteiro reserva da equipe gaúcha. Causou estardalhaço entre os seus já famosos admiradores paulistas e recebeu uma justa manchete de adoração: ‘’Facínora gaúcho não poupa violência nem em treino’’. Perguntado pela mídia local sobre o lance, já na manhã de sábado, enquanto comia um par de butiás e tomava um mate mais amargo que carqueja ensaboada por geada, afirmou: ‘’Lance di gioco’’.

Raiou, então, a manhã da primeira perna da decisão do Campeonato Brasileiro de Seleções Regionais. A paulistada dava o título como certo, com direito a baile, obviamente. Os gaúchos, circulava pelas gerais, eram ‘’demasiadamente toscos e sem talento’’ para superar o escrete estrelar paulista. Bom, todo mundo sabe que não é muito aconselhável mexer com toscos, justamente por serem imprevisíveis. O que se seguiu naquele decorrer de domingo foi uma surpresa total: os gaúchos calaram os espectadores paulistanos que lotavam o estádio e surpreendentemente venceram a partida por 2x1. O crédito, evidentemente, foi atribuído a Paùra, que não deixou a bola viajar por sua área ‘’nem em pensamento’’. Dizem os relatos –ou as lendas- que Aprigio jogou aquele jogo piuchado e que em sua guaiaca repousou um facão afiado, caso as coisas esquentassem demais. Perguntado, ao fim do jogo, pelos consternados repórteres estrangeiros o que achara da partida, respondeu: ‘’Mais fácil que acolherar* cego’’.

O meu absolutamente imparcial compromisso com a História e com os factos me obrigam a revelar um detalhe, um tanto quanto desimportante: Paùra foi expulso no final daquela partida, já no apagar das luzes, e ficou de fora das outras partidas finais (o regulamento previa terceiro jogo caso houvesse vitória para cada lado nas duas finais regulares), e evidentemente os gaúchos perderam a taça. O que os registros mostram é que Aprigio ‘’agrediu covardemente o avante paulista com agressões físicas criminosas’’ e que sua expulsão ‘’foi pouco diante de tamanha covardia’’. Contudo, o que Paùra revelou, muitos anos depois, aos jornais de Rio Grande foi que o paulista covardemente ofendeu Mamma Pietra ''com palavras desonrosas’’ e teve o que mereceu: ‘’deu-lhe uma chapuletada no ouvido direito e seguido de violento trompaço''. Afinal, ‘’o colono jamais foi padre para levar desaforo de volta pra estância’’. A mídia paulista, no consequente julgamento de Paùra, mostrou provas ao júri desportivo de que o jogador da seleção paulista perdeu a audição do ouvido direito; provas tais que nunca foram mostradas a defesa e que, provavelmente, se perderam nos confins da História, - e, todos sabemos que, se se perdeu na História, não aconteceu.

O que aconteceu foi que Aprigio voltou mais cedo para Rio Grande e, suspenso por três jogos, não ficou para ver as derrotas da seleção gaúcha por 3x1 e 2x1 e os centristas levantando o caneco. Hoje em dia, os registros não conseguem ser mais unânimes: se o Gigante Apuliano estivesse nas outras finais o resultado seria outro. Contudo, também contemporizam: ‘’não se mexe com a mãe de ninguém’’.

Dorneles Zanoli

quinta-feira, 5 de maio de 2022

Céu

Quando eu era criança, costumava deitar-me sobre a areia e mirar o céu como um paciente hipnotizado. Era impossível não ter a certeza de que aquele era o mesmo céu no mundo inteiro. Naquele instante, tudo igual.

O que seria do mundo se o céu fosse igual a todos? Olhar para o céu esses dias me fez despertar o eu que adormeceu na areia.

Talvez se o céu fosse o mesmo nos entenderíamos mais -tão simplesmente- porque, afinal, não seria tudo igual?

Ou talvez se o céu fosse o mesmo tomaríamos um pouco daquele tempinho que sempre falta no relógio para exultar-se diante das cores e nuvens, mesmo que elas fossem as mesmas aqui ou no Japão;

Talvez se o céu fosse o mesmo, compreenderíamos que tudo é um só ou até mesmo que o tempo, sim, de fato passa, mas que assim o faz com beleza e magia;

Talvez se o céu fosse o mesmo, as únicas luzes que nos bastariam seriam a da lua e a das estrelas, e não as explosões criadas em algum lugar, que pensamos não nos pertencer, para "pretensamente" manter a paz. 

Talvez se o céu fosse o mesmo, entenderíamos, sentados em algum gramado orvalhado, a imensidão de tudo aos olhos de um pequenino eu, quando fitava, deitado na areia do recreio, as nuvens se movendo e pensando em algodão.

Talvez se céu fosse o mesmo, perceberíamos, sem derrota, que um adulto não está lá muito longe de uma criança. Que aquela nuvem, estrela, ou sol que cega, carregaram sua mão a vida inteira. Sob aquele céu você, talvez, amou a primeira menina ou menino e imaginou quais nuvens vocês seriam; procurou o formato de algum peixe ou animal exótico; viveu seus 30, 40 ou 50; chorou seus defeitos, insucessos e celebrou, como se o céu não fosse o limite, suas conquistas.

Por agora, restam-me as memórias de infância dos céus que nunca mudavam. Esperançar é um ato de crença: depois que o sol se puser e nascer, de novo, de novo e de novo; que os céus sejam, um dia, todos iguais.