segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

Escola, Matemática e Papelaria

Eu constantemente tenho o pesadelo de que estou de volta à escola, tendo aula de matemática. Quando eu era graduando eles geralmente se tratavam de mim tendo que deixar a faculdade para refazer o ensino médio ou tendo que fazer os dois ao mesmo tempo. São geralmente terror puro. Esta noite eu tive o primeiro sonho de ‘’de volta ao colégio’’ já formado.
Entro no colégio. Saúdo os porteiros, amigos meus de outras épocas. ‘’Daí, Daniel! Veio fazer a matrícula?’’ –eles gritam- e eu simplesmente aceno que sim com a cabeça e com a feição satisfeita. Lembro que é necessário passar na papelaria da escola, como todos os anos, para averiguar a lista de material e comprar todos os seus componentes. A moça do caixa me recebe perguntando quem sou:
- Meu nome é Daniel, fui aluno aqui há uns cinco anos, acabei de me formar e voltei agora pra fazer o ensino médio de novo.
Ela e outras pessoas em volta endossam minha resposta, como se fosse este um movimento vital absolutamente normal, aparentemente muita gente faz isso. Recebo em mãos um papel vindo de um envelope azulado, a tal lista de compras, simbolizando o preço dos materiais como um todo: oito mil reais.
- Deixa eu ver, Dani – diz meu pai às minhas costas, aparecendo absolutamente do nada, sem que eu nem o tenha visto chegando.
Ele pega a lista e começa a analisa-la, mas antes de dizer qualquer palavra eu relevo:
- Calma, pai, tá caro mas não tem problema, eu vou procurar esses livros nos sites de pirataria de livros que a gente usava na UnB... É tranquilo, vou achar tudo. Pode confiar.
Corta a cena. Eu –é claro- sou transportado diretamente pra sala de aula e lá no quadro branco rabiscado se mostrava: aula de matemática. Desespero exala: eu já tinha escapado disso uma vez -para nunca mais voltar-, que caralhos estou fazendo aqui de novo? O professor fala o conteúdo da prova da próxima aula e eu continuo a pensar: ‘’Prova? Pelo amor de Deus, não faço a menor ideia do conteúdo, eu não estudo isso tem uns quatro anos!’’. É aí que o professor, como quase sempre ocorre nesses sonhos, vira-se para mim e fala:
- Vai voltar pra universidade quando, Daniel? – e gargalha: ele sabe que estou condenado a repetir de ano por conta da prova de matemática que não sei o conteúdo, e pior, a passar mais três ou mais anos tendo aula daquilo.
Ao tocar o sinal, saio da sala, reconhecendo ninguém entre os alunos da ‘’nova geração’’ e sendo discernido por muitos como uma espécie de ancião. Duas gurias conversam ao fundo, achando que não estou lhes ouvindo:
- Tá vendo aquele cabeludo ali? Repetiu umas sete vezes...
Ao descer as escadas, esbarro com o coordenador:
- Daniel! Que bom tê-lo de volta! Você vai ver que três anos passam rápido, guerreiro! (Observação: a palavra ‘’guerreiro’’ foi provavelmente uma sutil tripudiada com minha cara por parte de meu subconsciente -a famosa cerejinha no sundae-, já que era assim que o recrutador se dirigia a mim quando me enganou dizendo que teria que servir ao exército).
Puff! Acordo. São e salvo, inteiro, respirando, e sem estar de volta à escola tendo aula de matemática. Meu subconsciente é um baita roteirista tragicômico.