quinta-feira, 27 de abril de 2017

Um Causo de Alcmena

Nos primórdios de um dos ‘’anos de fim do mundo’’ – que com relutância revelarei: 2012- vivi um esboço de tragicomédia. Digo esboço porque, de tão ruim, nem peça chegou a ser. Na verdade, apressei-me de modo desnecessário, para dizer a verdade, a tragicomédia começou dois anos antes, mas como sou desregrado comecei pelo fim. Aliás, começar pelo fim é um hábito comum que tenho, mas tenho minhas dúvidas de que seja só eu (estou averiguando). Essa tragicomédia, especificamente, começou pelo fim –para aproveitar o gancho-.

No outono de 2010 conheci, em alguma ocasião que não me lembro qual ou que desejo omitir, a bela Dulcineia... Quer dizer, Alcmena... Digo, Cassiopeia. Ok, tudo bem, admito: estou omitindo seu nome verdadeiro, por fins criativos, claro. Os grandes escritos merecem grandes nomes. Enfim, conheci Alcmena –convenhamos, um baita nome- e foi aquela coisa de sempre: olhei-a, fitei-a, imaginei o quão cheiroso devia ser seus cabelos castanhos claros, e ‘’puf!’’, me apaixonei. Aliás, vale lembrar, eu escrevo para aqueles que se apaixonam por uma pessoa diferente a cada sete ou oito minutos, pois por muito já fui assim. Digo ‘’fui’’ porque já versa por muitos verões meu comprometimento eterno com Winona Ryder. Segue a história.

Delinearei os versos tragicômicos deste causo que nem Shakespeare foi capaz de fazer:

Alcmena: Oi, prazer; Alcmena...
Eu: O-o-o-oi, pra-ra-ra-razer; Daniel...
Alcmena: Ó, jovem lameado taciturno, que mal escuso esmorece, pois, o teu dizer? 
Eu: A-a-a-acho que fo-o-o-o-oi a água – tentando subliminar o gaguejar
Alcmena: Ó, donzelo! Vede pois vossa mesa! Cá-dentro há apenas vinho!

(Daniel emudece. Ri Alcmena. Daniel sorri. Silêncio metafórico).

Lirismos à parte, a gagueira realmente aconteceu. Resulta que nas grandes peças os pretensos protagonistas gaguejam mesmo, essa história de chegar na ponta de um navio e gritar que é o rei do mundo sem ao menos gaguejar ou tropeçar, caindo fora do navio, é coisa de Hollywood. Dito isto, o primeiro ato acabou aí. Sim -também estou rindo-, fiquei realmente gaguejando o resto da noite, inclusive nos momentos em que estava sozinho:

-Moço, tá tudo bem? – perguntava um pacato e cortês transeunte
- Tu-tu-tu-tudo, moço. Fo-fo-foi a água.

Dois anos se passaram, voltamos a 2012. Alcmena se perdeu na multidão dos dias e eu mantive amor secreto e doloroso por ela cerrado no peito. Prometi aos anjos e aos céus, aos andarilhos que cortam o Levante, aos marinheiros maltrapilhados e escassos que cruzam os mares em fúria, que se um dia dessem-me a justa chance de reencontra-la, honra-los-ia. A chance veio, se não viesse porque haveria segundo ato? Haveria um jantar, sabia que iria reencontra-la, talvez, porque não, tocando sua lira e fazendo ode às fadas. Preparei-me: fui ao fonoaudiólogo.

Alcmena: Ó, jovem Romeu, benditos são os céus que banham vossa chegada!

Ok, ela não disse isso, embora eu não quisesse admitir. Na verdade, nem suas falas anteriores a esta aconteceram daquela maneira (eu sei, é uma grande surpresa). Cheguei ao jantar, vi-a de longe e reparei que estava mais alta, mas os cabelos mantinham o brilho original. Fui cumprimenta-la.

Eu: Oi! Tudo bem?
Alcmena: Tudo! E contigo?
Eu: Tudo!

(Fim do segundo ato)

É, ainda bem que não cheguei a conhecer os anjos, os céus, os andarilhos que cortam o Levante e os marinheiros maltrapilhados e escassos que cruzam os mares em fúria, porque certamente eles me matariam. Mas vá lá dizer a verdade, isso acontece com muita gente! Eu só tinha jogado fora uma chance de ouro, depois de dois anos de espera, todo mundo faz isso. Cheguei em casa sentido um misto de fúria comigo mesmo e tristeza, tudo temperado com desolação à gosto (desolação ainda não foi limitada pelo Ministério da Saúde). E agora? Iria desistir? Iria lutar? Tentar dar um jeito? Iria me isolar numa ilhota cercada de tubarões e deixar a barba e o cabelo crescerem, tornar-me um selvagem, sedento por cólera e irracionalidade, e nomear-me ‘’Abrute Queimado’’? Até pensei a respeito, mas decidi desafiar o tempo perdido e suas inexoráveis implicações: iria conquistar Alcmena doutra maneira.

Achei-a no Facebook, em circunstâncias nebulosas cujo envolvimento da ABIN deve ser omitido. O importante é que a encontrei. Adicionei-a, esperei cinco minutos e logo estava em minha frente: a aceitação. Alcmena fez contato:

- Ó, delineado frestado ser, mil perdões por deixar-te sem tão mister adeus! (Nota do autor: neste dia, ela havia sumido por um momento e não mais apareceu. Coisas do dia-dia).
- Se-se-se-sem problema! – respondi eu.

Brincadeira, apesar do tom demasiado sério deste texto, eu não cheguei a gaguejar nesta parte. Ademais, estávamos teclando, não havia como, mas porque sempre há. Esta conversa não progrediu, devo resumir e admitir. Diferentemente de filmes em que o mocinho e a mocinha trocam mensagens durante um dia e no frame seguinte já aparecem casados e com cinco filhos e um bichon frisé, nos casos em que a vida não imita a arte as mensagens trocadas acabam cinco minutos depois. Alcmena sumiu, mais uma vez. Até tentei puxar assuntos lamentáveis aqui ou acolá, mas ela não mostrou muito entusiasmo. O que um ser humano consciente de sua pequenez diante do peso das circunstâncias sobre si faria nesta situação? Se você respondeu ‘’nada’’ você está errado, desculpe. O ser humano busca a redenção diante da superação de todas as expectativas e prognósticos pouco favoráveis, busca azedar a peleia e só cai depois de tomar um faconaço nas entranhas. Portanto, busquei uma manobra mais arrojada.

Procurei um amigo mais experiente e ‘’amaciado’’ em quesitos amorosos, ele saberia o que fazer, provavelmente. Por volta de seus 50 anos, meu amigo iria me guiar pelo melhor caminho em direção ao deleite do ombro de Alcmena. Contei-lhe o causo, ele escutou atentamente, encostado em sua poltrona de couro. Pedi-lhe ajuda, implorei. Ele acomodou-se ainda mais em seu assento, tragou seu charuto, ajustou os óculos e passou a mão carinhosamente em sua barba. Soprou a fumaça para o alto, tentando fazer pequenas letras ‘’o’’ com a fumaça. Fitou-me, impaciente por não ter logrado seu objetivo, e proferiu, categoricamente:

- Seja claro, revele seus sentimentos a ela. Este é melhor caminho. Ainda dá tempo de conquista-la.

Agradeci seu conselho, voltava eu a ter um norte. Beijei sua mão e saí de cena. Chegando em casa, escancarei minha realidade para Alcmena, expus-me cruamente. Contei tudo:  dos dois anos de sofrimento até o justo momento em que lhe escrevia. Era o começo da conquista.

Não tardou muito e ela respondeu. Ah, esqueci de avisar que já estamos no terceiro ato e que ela tinha namorado, talvez uma informação importante. Bom, como dizem na magnânima República do Piratini, tomei um trompaço. Não me lembro muito bem das palavras usadas, mas acho que muito tinham a ver com o fato dela estar num relacionamento, explicação não muito suficiente, obviamente. Alcmena foi gentil, desejou-me até sorte na vida. Pouco tempo depois, excluiu-me de sua rede de amizades. Daí, sim, sumiu definitivamente. Só me lembro de pensar, passados alguns dias de minha ‘’conquista’’:

- Em qual ilha será que dá pra me isolar e virar o ‘’Abutre Queimado’’?

Nem Shakespeare foi tão eloquente.

O Nerd

Eram cerca de sete e meia da manhã quando o nerd adentrou a sala:

- O nerd entrou na sala! – gritou um

A algazarra que faziam antes da aula parou de repente. Todos se calaram:

- Bom dia, aberração! – dirigia-se ao nerd o chefe da gangue do fundo da sala
- Meu nome é Antônio – respondeu o nerd
- Não interessa, você é nerd. Me passa o dever de casa aí. – perseverou o badboy tapando o caminho de Antônio
- Cara, deixa eu passar, por favor.
- Só depois que você me passar seu dever de casa, pra eu copiar.

O nerd, digo Antônio, olhou nos olhos do chefe da gangue e disse com consternação:

- Tá bom

Antônio abriu sua mochila e passou seu caderno de Gramática para o chefe, que agarrou-lhe com truculência:

- É bom estar tudo certo – ameaçou, dando passagem para Antônio.

Dirigindo-se à sua carteira, a primeira no outro extremo da sala, Antônio era observado com desprezo pelos outros alunos. Júnior chorava ao olhar para Antônio, Lurdinha sentia ânsia de vômito, Carlos batia sua cabeça repetidamente na carteira de tão abominante que era o nerd. No fundo da sala, a gangue do chefe gritava em coro:

- ET! ET! ET!

Antônio sentou-se em sua cadeira e ajeitou sua mesa, rabiscada de insultos repulsivos à sua natureza 
nerd, e nem notou que na carteira detrás repousava uma garota nova na classe. Sentiu um leve cutucar nas costas:

- Oi, tudo bem? Eu sou a Dora, qual é o seu...

Dora foi interrompida no meio da sua pergunta por um integrante da gangue do fundo:

- Cala a boca, sua idiota! Não fala com o nerd!
- Uai, porque não? – replicou, confusa, Dora
- Seres humanos normais não falam com nerds. A não ser que você também seja nerd...
- Sou não – interrompeu-lhe a menina – eu só queria conversar qualquer coisa...
- Não converse qualquer coisa com o nerd, pode ser perigoso, ele não é normal. Olha só esse cabelo dele, quem penteia o cabelo nos dias de hoje? Parece que a mamãe lambeu. – respondeu o integrante da gangue do fundo, se achando o maioral.
- Ô Pituca! – gritou o chefe da gangue diretamente para o integrante que ofendia Antônio – Chega aqui, agora!

A gangue do fundo toda riu do apelido de Gabriel, o tal Pituca. Todos sabiam de seu apelido, mas como Gabriel não gostava de ser chamado assim, sempre faziam questão de rir. Pituca, envergonhado e um tanto quanto irritado, deixou Antônio em paz e dirigiu-se, lentamente, ao fundo da sala. Foi a hora em que professora adentrou a sala de aula:

- Bom dia, turma! Todos bem? Como foi o final de semana?

Ninguém soltou um pio.

- Bom, o meu foi ótimo, pra dizer a verdade. Todos fizeram o dever de casa? – perguntou a professora, deixando suas coisas em sua mesa, bem à frente da carteira de Antônio – Vou passar agora nas carteiras dando visto.

A professora abriu sua pasta e tirou de dentro um caderno. De dentro do caderno retirou a lista de 
chamada.

- Ah, já ia esquecendo de fazer a chamada! – falou sozinha, ensaiando uma gargalhada.

Sentou-se na cadeira, acomodou-se frente à sua mesa, tomou em punho sua caneta preta e começou:

- Alice...

Por incrível que pareça, na hora da chamada ninguém importunava Antônio, talvez por falta de piada ou simplesmente pelo fato que ninguém da gangue do fundo realmente sabia o seu nome. Enquanto a professora fazia a chamada, Antônio se impacientava com o fato de que o chefe da gangue do fundo ainda estava com seu caderno de Gramática. O que ele poderia fazer? Não poderia enfrenta-lo, tinha medo. Podia, talvez, avisar a professora de que o ‘’chefão’’ detinha a posse de seu caderno, mas se o fizesse provavelmente se daria mal no recreio. Decidiu não incomodar, preferia garantir o pescoço. Se preciso fosse, tomaria um ‘’negativo’’, diria que esquecera o dever em casa. A professora prosseguia:

- Gabriel Amorim.
- Presente! – falou alto e levantou a mão Pituca.
- Hihihi, ‘’número 24’’ – cochichou o chefe da gangue com um de seus comparsas, que caiu na gargalhada.
- Hahaha! O Pituca é ‘’24’’ na chamada! – vociferou o comparsa. A gangue do fundo entrou em frenesi cômico.
- Silêncio!!! – gritou a professora, sem classe alguma – Seus mal-educados! Não veem que estou fazendo a chamada?

O silêncio, respeitosamente, imperou. A professora pôde continuar a chamada. Depois de termina-la, ela levantou-se de sua cadeira, dirigiu-se ao meio do quadro-negro e decretou:

- Hoje teremos um trabalho-surpresa, em dupla.

Um dos comparsas da gangue do fundo, horrorizado, tentando escapar do teste, contestou:

- Mas professora, e o dever de casa? Você não vai dar visto? – ele sabia que  se fizessem ela demorar para dar os vistos, o trabalho talvez ficasse para próxima aula.
- Aula que vem eu dou esse visto. Agora, vocês todos têm 10 minutos para formarem suas duplas. Depois, vou dizer a pergunta do trabalho.

Tumulto na sala. Pânico. Quase que em sincronia, todas as faces da gangue do fundo se voltaram para Antônio: pareciam querer devorá-lo.

- EU FAÇO COM O NERD!!! – gritou Pituca, jogando-se para fora de sua cadeira.
- NÃO, EU FAÇO! – proclamou outro desavisado da gangue.

Um ligeiro tumulto começou a se formar e a se dirigir rapidamente em direção a Antônio. Alguns dos membros da gangue já haviam sido derrubados pelos mais fortes e tentavam chegar ao nerd rastejando, outros derrubavam tudo e todos pelo caminho. A professora mexia no celular. O caos já estava instaurado e Antônio prestes a ser devorado quando a hierarquia imperou:

- Eu faço – ditou, categoricamente e soberano, o chefe da gangue. O caminho se abriu para ele.

Os dez minutos acabaram, a professora voltou à vida. O chefe puxou sua cadeira e se acomodou ao lado de Antônio, que ainda assustado pelo tumulto que prometia lhe comer vivo nada reclamou. Formada estava a dupla.

A professora passou entregando papéis avulsos e ditou a pergunta: ‘’Análise do mais-que-perfeito do verbo ‘’propalar’’. O chefão olhou diretamente para Antônio:

-Você sabe, Antônio? 

Antônio ficou estupefato: ele, na verdade, lembrava o seu nome?

- Você lembra do meu nome? Não vai me chamar de ‘’nerd’’? – contestou o badboy, ainda abismado.
- Não, cara, que isso! O seu nome não é Antônio? Então vou te chamar de Antônio, amigo.

‘’Amigo’’. ‘’Com quem diabos ele tá falando?’’, contestou-se Antônio. Bom, era melhor aproveitar a chance de paz, por enquanto, quem sabia ele deixava de incomodá-lo depois disso.

Depois de meia-hora, o tempo para fazer o trabalho acabou. O chefe não fez nada além de se dispor a anotar a resposta, ditada por Antônio. Não lhe chamou de ‘’nerd’’ em momento algum e, na verdade, foi até agradável. Dirigiu sua caneta ao topo da página inicial do trabalho e escreveu o cabeçalho, finalizou com seus nomes: Antônio Sintra e Ranulfo Júnior. Levantou-se de sua cadeira e entrou na fila para entrega-lo à professora, sentada, esperando.

Antônio não pôde evitar: ‘’Ranulfo? O nome dele é Ranulfo?’’, pensava consigo. ‘’Como ele pode sacanear o Nestor tendo um nome desses?’’, pipocava em sua mente. Um ‘’cara, se ele não fosse o ‘’chefe da gangue’’, definitivamente, não ia ter paz’’ foi o último pensamento de Antônio antes que Ranulfo derrubasse seu estojo:

- Valeu, nerd! – provocou-o Ranulfo, todo sorrisos.

Retornou o ‘’chefão’’ para o fundo da sala. Sua gangue o esperava.

O Sorriso de Cassandra

- Prazer. Cassandra.
- Cassandra? Faz tempo que não encontro uma pessoa com teu nome...
- Pois é, minha mãe tinha uma tara por mitologia grega...
- Ah, é da mitologia que vem teu nome? Eu adoro mitologia, mas dessa não sabia...
- Sim... Mas pra te dizer a verdade eu nem sei muito.

Cassandra usava óculos e tinha cabelo castanho, quase preto. Tinha um sorriso tímido e por isso precioso, quanto mais se escondia –ou tentava se esconder- mais belo ficava. O sorriso é sempre a porta da identidade de cada um, e ele sabia e soletrava isso para si dia sim e dia não. ‘’Nada deve superar o sorriso de Cassandra’’, era o que mais flutuava em seus pensamentos inquietos, ‘’que se foda: o sorriso é, sim, a parte mais bonita de uma pessoa’’ vinha logo depois.

- O que você faz, Cassandra?
- Eu sou formada em Química, e você?
- Faço Letras, mas já tô quase me formando.
- Sério? Eu adoro ler, apesar de passar o dia todo fazendo conta, basicamente.

‘’Se ela disser que o autor favorito dela é o Drummond eu provavelmente irei me apaixonar’’.

- Sério? Qual é o teu autor favorito?
- Drummond. E o seu?

‘’Merda’’.

- Eu adoro Drummond! Na verdade eu pretendo fazer minha monografia sobre a obra dele.
Checou se ela usava alguma aliança. Apesar de escuro, nada reparou.  Será que era solteira? Pessoa tão agradável assim não poderia estar solteira. Continuou a conversa sobre literatura.
- Você gosta de poesia em geral ou o Drummond é uma exceção?
- Então, adoro poesia, mas não leio um autor específico, só Drummond. Gosto de variar, sabe?
- Sei, eu também sou assim, pra te dizer a verdade.
Aí estava: a primeira mentira contada à Cassandra -não gostava de ler poesia sortida, se fosse ler alguma ia direto para um livro de melhores poesias de alguém-.  Mas por que não tentar parecer mais interessante neste momento de conhecimento mútuo?
- Pô, que legal! Achei que seria o contrário. Porque você parece tão todo organizado...
- Eu sou, mas poesia tá em um departamento diferente, né – respondeu-lhe esboçando uma risada boba.
- Com certeza!

Conversaram por mais vinte ou trinta minutos até a hora de ir para a casa raiar. Cassandra despediu-se com um beijo em sua bochecha e um abraço terno. Pouco depois que Cassandra fora embora pensou novamente em seu sorriso, ele era realmente muito interessante, talvez não fosse diferente de qualquer outro, mas era o sorriso de Cassandra. Era o dela e isso já era mais que o bastante. Ficou por mais alguns minutos naquela festa enfadonha de aniversário, cujo único mérito foi que lhe dera a chance de conhecer Cassandra, mas logo inventou uma dor de cabeça e foi embora. Logo que chegou à estação de metrô, no aguardo do trem que o levaria para casa, começou a pensar em seu futuro, presente e passado com Cassandra: ‘’Ela não deve ter namorado, não tem aliança’’; ‘’Será que ela gostou de mim? Poderia ter escolhido uma camisa melhor se soubesse que a conheceria’’; ‘’Será que fiz bem a pinta de ‘’cara meio desinteressado, meio interessado?’’ eram algumas perguntas levianas com as quais flertava. Depois decidiu pensar em como seria a vida com Cassandra: os dois vendo filmes juntos, abraçados e debaixo de algum cobertor rasgado; os dois cozinhando macarrão e sujando toda a cozinha; os dois armando sua primeira viagem juntos; os dois viajando juntos... Não tinha jeito, o futuro com Cassandra seria promissor. Estava, portanto, decidido: iria adicioná-la no Facebook, custe o que custasse, nem que procurasse até a manhã. Decidido tal fatal e direto destino daquele fetal relacionamento, seus pensamentos continuaram a ser perguntas soltas e vazias de uma vida que não lhe pertencia mas que já era sua: o sorriso de Cassandra mostra uma vindoura vida perfeita ao seu lado.

O trem já avisava que sua estação de destino estava próxima quando se desesperou com o questionamento: ‘’Quantos filhos será que Cassandra quer ter?’’. Sempre pensara em ter dois filhos, três no máximo. Mas e se Cassandra quisesse mais? Mais um do que contabilizava poderia aceitar, mas e se ela fosse daquelas pessoas que gostam famílias grandes criadas em casas na zona rural? Mas e se ela quisesse só um filho? Ou ainda pior: e se ela não quisesse ter filhos? ‘’Meu Deus’’, pensou: eram os primeiros problemas matrimoniais que se aproximavam. Tentou se tranquilizar ao pensar que o sorriso de Cassandra apontava uma pessoa que via a beleza na vida e a ‘’beleza da vida é a concepção’’, como dizia repetidamente sua própria mãe. ‘’Mas vai saber’’, contestava, ‘’hoje em dia a beleza pode ser tanta coisa...’’. Definitivamente, esta a primeira resposta que o sorriso de Cassandra não podia lhe dar: ‘’O que é a beleza da vida?’’.

Esqueceu pensamentos levianos ou quantos filhos queria Cassandra, concluiu que era cedo demais para isso, mesmo que nada fosse demais em sua mente. Abriu a porta de seu quarto, nem tomou banho ou jantou, foi direto ao seu computador, ao seu Facebook. Assaltou as informações do famigerado evento do aniversário em que se conheceram presentes em sua rede social, procurou entre os convidados, folheou a lista de nomes, achou-a: Cassandra Melo. O tempo foi demais ligeiro do carregamento da página inicial do perfil de Cassandra e não permitiu nenhum tipo de preparo interior espontâneo: ela tinha namorado. As informações na tela do computar provaram que, na verdade, o sorriso de Cassandra pertencia a ela mesma e não à sua mente perdida de trem. Fechou a tela de seu computador, foi ao banheiro, tomou banho e jantou. Voltou à vida normal. Deu boa-noite aos pais e às irmãs, alegou estar com dor de cabeça e que por isso iria se deitar. Voltou ao seu quarto, deixou as luzes apagadas e se jogou na cama. Permitiu-se pensar no sorriso de Cassandra pela última vez:

- Nunca mais me apaixono por Cassandras.

Infância

Quando eu era uma criança uma das frases que eu mais refutava era: ‘’a infância é melhor fase da vida’’. Não sei muito bem porque eu tentava, sempre, denegrir este pensamento –talvez porque eu apenas queria ser rebelde-  e não prestava realmente atenção em sua essência absolutamente verdadeira. O que acontece hoje é que sou um eterno saudosista da infância, justamente por ser a época mais inocente e genuinamente feliz que um ser humano pode ter. Não consigo olhar crianças sem pensar o quão bom era ser um garoto de um metro e tantos, de como era bom ser um mágico do cotidiano: todas as situações poderiam se transformar em brincadeiras; de como era bom não se preocupar com contas ou com o envelhecimento. Sobretudo, era bom sentir que tudo era uma aventura e o desconhecido era também uma aventura, a ser desbravada, claro. Ser inocente, transparente e verdadeiro era outro barato: se gostasse de dinossauros, os defenderia até a morte e, se preciso fosse, sairia no tapa. 

Uma criança é uma absoluta mágica, como já falei, porque consegue transformar qualquer sentimento em maravilha, e glorificar as pequenas coisas de um modo que nenhum adulto jamais conseguirá. Nunca vou me esquecer do dia que eu só tinha um avião de papel para brincar e, ainda assim, foi um dos dias mais divertidos que tenho na memória. A mente fascinante e fascinada de uma criança é um espetáculo à parte, sua natureza impressionável, seu senso de maravilhamento constante. Por falar nisso, também, houve um dia em que descobri que quando completasse 13 anos eu viraria um lobisomem:

- Meu Deus do céu – falava para mim mesmo, gelado, sentindo meu inevitável destino de homem-lobo.

Não sei porque, mas eu tinha tanto medo de lobisomens que embasbaquei que viraria um deles quando completasse 13 anos, como dizia na lenda. Esqueça o fato de que a lenda por vezes dizer que um lobisomem é um homem que foi mordido por outro lobisomem, ou que é um filho que nasceu depois de seis filhas -e que por isso é amaldiçoado-; para mim não interessava: eu viraria um deles, só restava aceitar o destino.

- Meu Deus do céu! Não tem volta! Agora é só com tiro de bala de prata no coração pra acabar com essa loucura! – desesperava-se eu, ao descobrir como se para um lobisomem.

Devo dizer, por desencargo de consciência, que eu era uma criança impressionável, talvez um pouquinho acima do tom das demais crianças. Era tudo por causa que eu vivia em um mundo de maravilhas, e –talvez- porque, às vezes, acreditava em algumas bobagens. Mas, por Deus, não! Quem disse que lobisomens são bobagens?!? São uma questão pública, isso sim! Justamente por isso, mantive-me amedrontado por anos, sempre fugindo das noites de lua-cheia, e esperando o dia do meu 13º aniversário: o dia da prova final.  Talvez tenha sido um pouco frustrante não ter me tornado um lobisomem na primeira lua-cheia após meu aniversário, prefiro pensar que sou, sim, um lobisomem e ainda não descobri (os homens que se transformam em lobisomens perdem a memória da noite anterior).

Hoje, com vinte e um anos, penso que sou um absoluto imbecil de ter denegrido aquele pensamento, ele não podia ser mais certo. Entretanto, mesmo querendo ser um adolescente logo –e um adulto logo-, eu vivi a infância e simplesmente esqueci que um dia seria um adulto, e isso foi uma absoluta bênção. Eu daria tudo e pagaria tudo para poder, apenas um dia sequer, voltar a ser criança. A infância é um presente que recebemos ao nascer e que depois temos que passar adiante sem nem mesmo perceber. Não consigo ver Stranger Things sem me emocionar.

segunda-feira, 10 de abril de 2017

O Homem do Medo

Reza a lenda que na histórica cidade de Rio Grande residiu por anos o beque mais temido da Cisplatina. A História diz que, de tão grosseiro e bruto, não sabia ler e escrevia apenas ‘’para a títulos de contra-cheque’’. Seu nome era Aprigio Paùra, filho de colonos italianos de ascendência obscura (dizem que do Lácio ou da Apúlia), e cuja primeira mamada foi de polenta e não de leite. Bem, seu nome não podia ser mais premonitório: provocava puro medo nos adversários. Ainda era um ledo ajudante nos vinhedos da família Paùra quando foi convidado para fazer um teste nas divisões de base do glorioso e eterno Padeiral, o maior clube que Rio Grande já teve (e tenho dito!). As circunstâncias deste convite ainda permanecem nebulosas, mas, aparentemente, Paùra tinha quinze ou dezesseis anos quando seu pai, Don Facundo, desafiou o presidente do Padeiral para uma partida de bocha valendo um teste para Aprigio no clube. Diz a lenda que Don Facundo venceu a partida e disse que seu filho ia mostrar pros ‘’alemón’’ que italiano também sabia bater. Dito e feito, mal tinha entrado em campo para mostrar seus atributos aos ‘’cartolas’’ do Padeiral, Aprigio furou a bola com uma cabeçada, durante um treino de cruzamentos. Naquele mesmo momento foi promovido ao escrete principal do Padeiral. Jogou apenas cinco jogos como profissional e logo depois se ‘’demitiu’’ do cargo de beque-central do clube, dizendo que o Padeiral estava jogando ‘’bonito demais’’ e não merecia seu talento: preferia voltar a catar uva na colônia. 

Catou tanta uva que o vinho dos Paùra foi eleito o melhor vinho do Litoral Lagunar em 34 e 35. Estava a passo de ganhar o galardão novamente quando Aprigio voltou ao futebol, convencido pela diretoria do Rio Grande, o centenário clube rio-grandense, a formar a defesa da equipe juntamente com Cazuza, beque ‘’letrado demais para ser o coração da defesa’’. Seu único pré-requisito para assinar com o ‘’Vovô’’ foi a promessa de treinamento diferenciado de cabeçadas, sempre seu maior atributo. Diz a lenda que desde então, toda a sexta-feira de manhã, enquanto os demais atletas tomavam seu café com grostoli e salame, Paùra permanecia nas proximidades das ruínas do extinto Estádio das Oliveiras, destruído por um incêndio em 34, cabeceando um saco de terra pendurado numa árvore.

O treino duro deu frutos. Em seu primeiro ano como xerife da zaga, Paùra levou o Rio Grande ao seu único título gaúcho, em duas finais épicas contra o Internacional, clube que já era malquisto pela ‘’colonada’’ por praticar o ‘’futebol-arte’’ no Rio Grande do Sul. Sendo aquela uma genuína disputa de Davi contra Golias –mas sem final feliz para Davi-, o Rio Grande patrolou os bailarinos do Municipal, digo, ‘’Internacional’’, e venceu os dois jogos, em Porto Alegre: 3x2 e 2x0. O primeiro jogo, reza a lenda, foi ainda mais épico porque o gol de desempate foi marcado aos 43 minutos do segundo tempo e Paùra jogou metade do jogo com a camisa empapada em suor e sangue. Sim, o filho de Don Facundo foi agredido violentamente por algum bailarino colorado bem no centro de seu peito. O choque foi tão forte que causou-lhe uma parada cardíaca, sendo reanimado ainda no campo. Por precaução, Paùra foi levado ao hospital mais próximo ao Estádio da Timbaúva, onde era disputada a final, mas fugiu da ambulância poucos minutos depois desta tirá-lo do campo. Um transeunte que passava ao lado da ambulância justo neste momento conclamou ter ouvido um ‘’Ma io me morro giocando!’’, enquanto Aprigio corria para longe. Bom, é o que diz a História. E a História diz que Paùra voltou ao Timbaúva, jogou 40 minutos mesmo tendo acabado de ter uma parada cardíaca, e ainda saiu sorrindo e pedindo vinho após o apito final. Depois disso tudo, o jogo de volta, também no Timbaúva, foi apenas para cumprir tabela, ninguém ousou chegar perto da zaga do Rio Grande: faixa no peito e taça no armário.

Paùra jogou toda sua carreira pelo Rio Grande. Foram 15 anos de muito carrinho, cabeçada e manetaço, além de um talento especial para balançar as redes do São Paulo, seu desprezível rival. Aliás, tantos foram os gols de Paùra em clássicos ‘’Rio-Rita’’ que geralmente as partidas já começavam com um ‘’1 a 0’’ automático para o Rio Grande. O próprio Paùra chegou a afirmar, já com idade avançada, que preferia ser campeão citadino que gaúcho, pois ‘’vencer o São Paulo era como comer chimia mergulhada no vinho’’. Eis o motivo, portanto, do Rio Grande nunca mais ter sido campeão gaúcho: um campeonato desimportante não valia sua atenção. Mesmo ignóbil para o maior clube do Rio Grande do Sul, o ‘’Gauchão’’ de 1941 teve a honra de ter sua final disputada pelo Rio Grande, novamente contra o futebol-bailarino dos alvi-rubros do ‘’Internacional’’. Não vale a pena dizer que o Rio Grande perdeu aquela final, provavelmente roubada, e sim dizer que Paùra anulou o craque colorado Tesourinha nas duas partidas. Inclusive, quebrou uma de suas pernas no final do segundo jogo, mas diz a lenda que tudo foi resolvido ‘’civilizadamente’’ porque o próprio Paùra pôs a tíbia de Tesourinha de volta ao seu lugar.

Em 1942, Paùra foi obrigado a lutar na Itália, interrompendo momentaneamente seu ofício principal de beque-central. Diz ele que o período na Itália foi ‘’pura diversão’’ e no mesmo ano foi mandado de volta para o Piratini, por ter perdido um pé em batalha. Mesmo assim, continuou jogando bola pelo Rio Grande até 1951, quando se aposentou. Perguntado uma vez como conseguiu jogar tanto tempo sem um pé respondeu: ‘’Io solo precisava della testa para giocare’’. Depois de aposentado, concentrou seus esforços em ajudar Don Facundo com suas uvas em tempo integral e poucos meses depois o vinho dos Paùra voltou a ser eleito o melhor do Litoral Lagunar. O resto é história -ou lenda-. 

Dorneles Zanoli

Winona, Marry Me, Please

O seguinte texto é a história de uma obsessão.

Começou em 2008. Eu tinha entre doze ou treze anos, se me lembro bem, e estava no trabalho do meu pai, fazendo companhia. Era uma daquelas tardes calorosas –no mau sentido- do verão brasileiro e durante muito tempo eu preferi passar as tardes no trabalho do meu pai do que na escola. Bom, no trabalho do meu pai tinha um computador para jogar tetris e googlar, além de ser possível olhar amostras de rochas sempre que eu quisesse, o que era um barato só. Além disso, fiz um amigo na divisão de comunicação da empresa, o Jonusan, e as vezes ficava a tarde toda conversando com ele sobre futebol. Um dia, numa dessas conversas, notei que em sua mesa pairava um porta-retrato de uma mulher absolutamente estonteante, com um sorriso que nunca mais me saiu da memória:

- É sua esposa? – perguntei
- Não, meu camarada. É a Winona Ryder. – respondeu ele, com os olhos brilhando
- Quem é ela?
- Uma atriz. Linda demais, né?
- Cara, ‘’linda demais’’ não chega nem perto de ser uma hipérbole (isto foi bem na época que eu estava aprendendo figuras de linguagem). Mas ‘’pera’’, você não é casado?
- Sou. Mas a mulher da minha vida sempre foi Winona.
- Entendi... Cara, tem como você me dar essa foto?
- Essa não, mas toma uma nova – finalizou Jonusan, categoricamente, abrindo uma gaveta cheia de fotos de Winona.

Levei a foto de Winona para casa com sigilo total, eu ainda precisava saber se aquilo era realmente amor. Por precaução, a deixei colada na contra-capa de meu caderno de matemática, até então o meu bem mais valioso. Em poucos dias virou regra: olhar para Winona sempre que me sentisse para baixo. Aliás, em poucos dias, também, deixei de me enganar e decidi que estava apaixonado por Winona Ryder, e mais, decidi criar um fã-clube em sua homenagem. Sim, foi o único fã-clube que criei ou participei. Seu nome? Como eu poderia esquecer. Era ‘’Winona Marry Me Please’’ (Winona Por Favor Case Comigo), mas eu chamava de WMP, para facilitar, sabe. Logo após a criação, mal pude esperar para contar a novidade na escola:

- Cara, criei um fã-clube, quer entrar?
- Fã-clube? De quem?
- Da Winona Ryder.
- Quem?
- Winona Ryder, pô.
- Nunca ouvi falar.

O ‘’nunca ouvi falar’’ proferido pelo meu amigo me deixou ultrajado, quase me embrulhou o estômago. Como ele podia não saber quem era ela? Procurei outros ‘’parceiros’’ para convidar para o fã-clube e nenhum, absolutamente nenhum, conhecia Winona. Aquilo acabou com meu humor e disposição, até então a única regra para ingressar no WMP era, simplesmente, amar Winona Ryder, mas essa realidade estava prestes a mudar. Ninguém a amaria de verdade como eu e por isso eu nunca mais iria mencionar a existência do WMP para ninguém, e no final das contas, era até melhor porque ‘’eliminava a concorrência’’, concluí.

Com esta nova regra, o WMP espreitou-se pela surdina dos anos, mas nunca saiu de atividade. Cansei de contar a noites em que não conseguia dormir e ia pesquisar no Google coisas como ‘’qual a cor favorita de Winona Ryder?’’ ou ‘’Winona Ryder fala português?’’ ou das horas imensas que gastei riscando e rabiscando uma carta que lhe enviaria quando eu completasse dezoito anos (na minha cabeça, a carta teria que ser enviada com esta idade, pois com dezoito anos nenhum empecilho legal ficaria no nosso caminho. Preciso dizer que eu achava que ela aceitaria?).
Entretanto, foi justamente com dezoito anos que, um dia, decidi jogar a toalha:

- Cara, desisto. Eu nunca vou conhecer a Winona mesmo.
- Tá maluco, seu idiota? – respondeu minha versão de doze ou treze anos- Nós não prometemos amar a Winona eternamente? É isso, então? Você vai trair o WMP?
- Não, cara, não é nada disso, só acho muito difícil isso tudo se concretizar. Ela nem mesmo sabe que eu existo!
- E daí? – retrucou eu mesmo, categoricamente- Os dinossauros também nunca vão saber que a gente existe e ainda assim os amamos. Você vai abandonar os dinossauros, também, agora?
- Tá maluco, é? Jamais!

O argumento utilizado pela minha versão mais jovem foi soberano: eu jamais desistiria de Winona. Entretanto, preciso admitir, tivemos nossas crises:

- Ah, então é isso, né? Você vai mesmo me trocar por essa tal de Natalie ‘’Portway’’?
- ‘’Man’’, é ‘’Portman’’. – respondia eu para minha projeção imaginária de Winona
- Você vai mesmo me corrigir?
- Desculpa, amor. Eu jamais te trocaria, você sabe.


Mesmo com crises, amor verdadeiro é aquele que perdura. Winona continua sendo minha musa inspiradora e o WMP continua em atividade, porém funcionando em períodos sabáticos. Ainda assim, ninguém pode entrar nele, regras são regras. A obsessão, aliás, foi controlada: não há mais pesquisas no Google sobre como virar um ator de Hollywood durante a madrugada. A obsessão hoje se limita ao rosto de Winona no plano de fundo do meu celular, mas até que ponto isso poderia ser uma obsessão, não é mesmo?