sábado, 19 de agosto de 2017

BB

Metrô do Distrito Federal, manhã. O vagão encosta na Estação Shopping. As portas se abrem e um grupo de cinco ou seis homens adentram-o, todos com camisas negras e um peculiar crachá no lado esquerdo do peito. Nada muito a se suspeitar. Jogam conversa fora, soltam risadas de vídeos de Whatsapp e brincam um com os outros. 
D., um absoluto desconhecido jovem, que estava por perto, acompanha tudo com o olhar. Sua atenção parece se voltar especialmente para os crachás: prateados, laminados, brilhantes e com os dizeres "Profissão: BB; Treinador: Jesus Cristo". "Peculiar", pensa D., "será que são de alguma igreja?". Contudo, "papos religiosos" não se ouvem, nem mesmo um salmozinho, nada. A curiosidade se apodera do absoluto desconhecido, que se aproxima de um dos "crachazados":
- Com licença, amigo, vocês são de alguma igreja?
- Não, fera. Porquê? - responde o interpelado -que, por fins artísticos, chamaremos de Mário-
- Nada não, só fiquei curioso porque tá escrito "treinador: Jesus Cristo" no seu crachá. Achei que vocês fossem, por isso, de alguma igreja.
- Não, não, fera. A gente é body builder, sacou? Por isso o "BB"; e nosso maior treinador é Jesus. - responde Mário, delicadamente.
- Ah, entendi...
D. se despede do -porque não- novo amigo. Acha tudo aquilo bastante peculiar, provavelmente um novo mercado de academias que unam a religião ao exercício físico. "O capitalismo realmente sabe reinventar tendências", pensa D. 
Contudo, não é o capitalismo que não lhe sai da cabeça, é imagem de Jesus sendo um personal trainer: "Imagina só: Jesus lá no céu, em seu escritório, cuidando de toda a papelada referente a crises humanitárias e ecológicas, super ocupado, e parando tudo pra descer à Terra e orientar o Mário em seu treino... Como seria isso?", se contesta o jovem desconhecido. "Não sei", responde D. para si mesmo, "eu nunca tive um personal trainer só pra mim".