segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Tigres

Os seres humanos têm uma ânsia muito desmedida do que querem ser da vida. Aparentemente, quer dizer, visivelmente, temos que escolher cada vez mais cedo qual vai ser a nossa praia, qual vai ser nosso caminho. Fico imaginando um pai, no berçário, olhando para seu filho recém-nascido e dizendo:
- Olha o meu advogado!
Tá, nesse caso, admito, o bebê nem escolher pôde, mas um pouco de elucidação absurda faz bem. O fato é que mal passamos de um metro de altura e já temos que escolher todo o rumo de uma vida, não que escolhas não sejam importantes e necessárias -veja bem-, mas escolher um filme no Netflix já é difícil, imagina o que queremos da vida.
Ok, realmente temos que escolher alguma coisa, mas, vai saber, talvez não seja tão ruim essa de, do nada, mudar tudo e embarcar num novo barco, de ter dificuldade saber qual ‘’a tua onda’’. Somos, na verdade, o que "o que achamos que queremos ser", e justamente por isso, sempre há tempo pra descobrir novas paixões e decidir novos futuros. Eu mesmo não sei muito bem ainda o que quero da vida, eu acho que sei, mas estou em dúvida a respeito disso, vai depender da próxima temporada de Game of Thrones. Aparentemente, eu já tenho vivência suficiente -visto que, segundo meu avô, já passei da idade de pegar numa enxada- pra dizer que escolhemos tudo cedo demais pra termos certeza do que vamos querer da vida. E se, por acaso, minha opinião não é das mais magnânimas, saiba que Nietzsche também dizia isso e foi por isso que aquele bigode ficou daquele tamanho. Ele nunca sabia se queria cavanhaque, bigode, barba, ou tudo ao mesmo tempo.
Eu, pelo menos, não quero saber tudo que eu quero da vida muito cedo, imagina só, que horror, nunca contestar se café batido é ou não é melhor que expresso. E sei que se amanhã eu acordar querendo ser, porventura, o Batman, aceitarei, claro. Eu só precisarei roubar um banco, ou você acha que a Mansão Wayne foi construída com os créditos do "CPF na Nota"? A indiscutível coragem e a capa eu já tenho.
E ah, o bebê não virou advogado, -para o desgosto do pai- virou biólogo, mas anda pensando em cursar biblioteconomia, muito em vista que, dentre outros motivos, ninguém concordava com ele de que o rei da selva é, na verdade, o tigre.

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