Luis Fernando Verissimo é um dos poucos escritores de quem
compro o livro sem sequer olhar o título, ele é um daqueles mestres em que o
nome ou a sinopse da obra pouco importam, tem de se tê-la. Verissimo foi um dos
autores que fez minha infância, que moldou minha percepção do cotidiano e
lapidou meu senso de humor, e como agradecimento, eu só poderia ler mais e mais
coisas dele. Coleciono suas obras desde a infância, mas busco compra-las com lentidão,
para que nunca acabem, fato tal que fiz com excelência, é verdade. Um dia
desses tratei de comprar dois livros dele de uma vez só, por estarem em uma
apetitosa promoção, a qual não podia rejeitar. Mal vi os títulos, apenas
olhei-os uma vez, para saber se os tinha ou não, e como não, me dirigi logo ao
caixa. A atendente começou a passar os livros e a me encarar com uma feição
estranha, um rosto de desgosto, uma reprovação interna. Eu logo achei esquisito
da parte dela olhar-me assim e confesso que me passou pela mente desferir-lhe
um ‘’algum problema?!?’’ mais grosso que parafuso de patrola. Contudo, a
grosseria é uma arma que deve ser usada com cautela e sabedoria, jamais solta a
bel-prazer, e por isso decidi simplesmente não entender a situação, cada um com
seus problemas, afinal. Porém, enquanto passava meu cartão, olhei o visor do
computador que expunha a minha compra, com os respectivos descontos e adornos,
e reparei que os dois livros se chamavam ‘’Orgias’’ e ‘’Sexo na Cabeça’’, e
subitamente tudo fez sentido: não tinha jeito, era oficial, na cabeça da
atendente, eu era um legítimo devasso.
Saí da loja quase que rindo da situação engraçada; que
peculiar coincidência, meu caro Watson! Parece que até quando não sabe, Luis
Fernando me arruma situações engraçadas para ornamentar meu cotidiano e gerar,
talvez, alguma crônica. Quiçá seja ele
um mago, ‘’O Oráculo do Guaíba’’, porque Delfos não é nada perto do Gasômetro.
Quanto à atendente, seja lá o que estivesse pensando, restou-lhe a recordação de
um ninfomaníaco estranho, que ao invés de procurar bordéis vai atrás de
literatura; afinal, o descrito por outros é melhor do que o feito por si mesmo.
Uma raça peculiarmente nova, deveras.
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