sábado, 28 de janeiro de 2017

A História de um Burocrata

Quando Anderson explodiu para o futebol, no longínquo ano de 2005, a excitação total tomou as ruas de Porto Alegre, até o Santo Papa Scolari profetizou que o jovem, ainda magricela, seria o próximo Ronaldinho. Como se podia esperar, logo foi vendido pelo Grêmio ao Porto, onde, aparentemente, o bacalhau à portuguesa maximizou ainda mais os seus talentos, deixando os portugueses boquiabertos:

- Santo Cristo! Viste o que este gajo acaba de fazer??? - perguntava, atônito, o senhor Gaspar a um jovem desconhecido que sentava ao seu lado no Estádio do Dragão, após uma mágica corriqueira de Anderson.


Quanto mais o tempo passava, mais Ronaldinho era Anderson e mais certo de ter acertado a profecia estava Papa Scolari. Até que, num belo dia, tudo mudou. Os planetas se desalinharam, o cosmo pediu licença: Sir Ferguson queria Anderson. Tão logo os portugueses comeram seu matinal pão português e Anderson já estava em Manchester.

Chegou com a malícia e a genialidade que, evidentemente, aprendeu na santificada Azenha e foi driblando todos os marcadores possíveis em seu primeiro treino no United, dizem que nem os roupeiros escaparam. Contudo, do banco da casamata, mascando seu chiclete decenal, Sir Alex gritava:

- Tactics! Tactics!!!


Não deu outra, Anderson foi lançado a segundo-volante, uma mudança abismalmente improvável: de gênio da criação à burocrata do time. Vai entender, coisa de inglês. O fato foi que depois disso nunca mais foi o mesmo, não virou o Ronaldinho que Papa Scolari previu, quer dizer, não em campo.

Mofou e desmofou várias vezes no United. Às vezes tirava da cartola uma antiga mágica, os ingleses gritavam "bloody hell!!!", e ficava nisso. Decidiu tirar umas férias em Florença, depois de dispensado pelos amantes do futebol burocrata, e foi contratado pelo Sport Club Municipal, tido como uma jogada de mestre do então presidente Vitório Piffero.

Mas para as frustrações coloradas, também pouco fez: a burocracia futebolística já estava tão funda em seu ser que o maior lance que protagonizou no Municipal foi uma briga em um treino. Até entendo o drama de Anderson, não é fácil ensinar um rapaz que desde os seis anos de idade fazia embaixadinha com moedas de um centavo a dar chutão. Dar chutão, ser um estúpido com a bola, requer tempo e treino, muito treino.

Contudo, meu coração ainda diz que devo confiar nas palavras de Vossa Santidade Scolari: Anderson ainda será Ronaldinho. Seja lá o que isso quer dizer.

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