Um dia desses li um artigo que
dizia que a violência no mundo estava se tornando um fenômeno burocratizado e
privatizado. Decidi refletir a cerca do assunto e comecei a constatar algumas
coisas interessantes: hoje em dia não é tão fácil ser assaltado, por exemplo,
como era há vinte anos. A coisa complicou, se profissionalizou, se privatizou.
Agora, existem zonas específicas com horários específicos para ser assaltado: perdeu o horário, lamento, não vai ser assaltado. Juro que poucos dias atrás
fui correndo para uma zona de assalto em Brasília, doido para ser assaltado, mas tive meu pedido recusado:
- Desculpa, mano, mas hoje a
gente só tá distribuindo senha.
- Pô, cara, me ajuda aí, por
favor. Vim de ''mó'' longe só pra ser assaltado!
- Cara, regras são regras, hoje a
gente não assalta, é folga. Mas você pode pegar uma senha pra segunda-feira, se
quiser.
- Me dá uma aí, então.
Por mais que eu tivesse ficado
desapontado e triste, regras realmente são regras. Tive que voltar na segunda,
com o dobro de dinheiro, para compensar o dia em que não pude ser assaltado.
Realmente, o fenômeno está profissionalizado, esperei a minha vez sentado numa
cadeira confortável, assistindo ‘’Malhação’’, e me ofereceram até um cafezinho.
O atendimento que se preocupa com o cliente é tudo.
Justamente por conta do fenômeno
ser mundial, ouvi dizer que na França oferecem croissants aos que esperam para
serem assaltados e, dependendo do valor de suas posses, te presenteiam com um
crepe de chocolate na saída. Na Inglaterra, aparentemente, o negócio é mais
discreto, a privatização dos assaltos tendeu a seguir uma linha meio 007.
Existe uma chave secreta que se autodestrói assim que você adentra as localidades
da Robbery Institute 6 (ou RI6) e sua memória é apagada depois de assaltado,
para não deixar evidências, claro (ou James Bond já foi um cara de deixar
evidências?). Mesmo assim, me garantiram que vale a pena.
Entretanto, o lugar mais
instigante para ser assaltado é na Islândia, onde você é levado de barco viking
até uma ilhota remota próxima de Reiquiavique, chamada Vaidevágarsson,
justamente para ser assaltado. A única reclamação que ouvi desta ‘‘jornada islandesa’’,
chamemos assim, é que o barco veleja rápido demais, não dando tempo suficiente para
tirar muitos fotos ou selfies, e, além disso, algumas pessoas já tombaram da nau, tamanha a sua velocidade. Contudo, de uma
maneira ou de outra, a profissionalização e a privatização dos assaltos na
Islândia chegaram a pontos tão sofisticados que o programa inclui até
beberrança numa taverna viking em Vaidevágarsson, ao final do assalto, para que
todos comemorem, assaltantes e assaltados, em comunhão.
Meu projeto, neste ano, é
economizar o máximo possível de dinheiro para que, no início do ano que vem,
tenha posses suficientes para ir ser assaltado na Islândia. Mal posso esperar.
Quer dizer, isso se eu aguentar não ser assaltado até lá.
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