O último grande filme que me fez
–realmente- pensar foi Her, de Spike
Jonze. A obra-prima estrelada por Joaquin Phoenix é uma daquelas reflexões
sobre relacionamentos que englobam uma mensagem que permeia tanto impacto
visual quanto lírico. De 2014, ano em que assisti ao filme, para cá, não
encontrei obras cinematográficas tão tocantes quanto à de Jonze, no sentido de
possuírem a capacidade, assim que sobem os créditos, de me colocar em absoluta
reflexão sobre a vida e seus delineares. Para a salvação de meus momentos
reflexivos, ''Captain Fantastic'' se trata de um destes casos.
É difícil escrever algo resumido um
filme tão singular e com tanto conteúdo apresentável, mas me arrisco: ‘’Captain
Fantastic’’ versa sobre ciclos, sobre responsabilidades, sobre aceitação.
Diversas temáticas são tratadas ao longo da trama, desde paradoxos pertinentes
quanto ao modelo de sociedade em que nos inserimos, até à maneira de como aceitar
a realidade, derivada deste mesmo modelo social. Não intuito revelar
absolutamente nada do enredo deste trabalho, ele é uma experiência que deve ser
usufruída sem ''pré-conhecimentos'', mas é extremamente difícil encontrar
filmes por aí que consigam tratar de forma tão equilibrada a quantidade de
ironias, críticas, e autoavaliações, presentes em ‘’Captain Fantastic’’. O
trabalho abraça, absolutamente, as contradições e hipocrisias inerentes de
nosso viver, que brotam e se multiplicam à medida que conhecemos e propagamos
novos discursos. E este é, justamente, o mérito do filme. Ele não é uma propaganda
à ideologia ou ações de Ben, personagem de Viggo Mortensen e condutor principal
da trama, mas ao mesmo tempo não defende a postura, diametralmente oposta, de
Jack, personagem de Frank Langella, seu ''adversário'', por assim dizer.
‘’Captain Fantastic’’ preocupa-se em demonstrar os problemas, incoerências e
devaneios da sociedade capitalista que nos permeia, mas, sobretudo, de nós
mesmos. Há um claro, choque discursivo, sim, entre o núcleo de Ben e o de
Frank, que vai desde a percepção, de cada um, de como se deve educar um filho –e as claras consequências disto- até de como
devemos lidar com a perda. Mas a inquietação que fica disto tudo é: até que
ponto nossas escolhas serão sempre nossas? Será que não chegará uma hora que,
ao impactar sobre os outros, elas não mais serão somente nossas?
E como lidamos com a dor da perda,
aliás, é uma das grandes mensagens de ‘’Captain Fantastic’’, e talvez a
‘’pré-cena ‘’ final do filme, absolutamente linda e emocionante, ilustre quase
que perfeitamente isto. Há uma importante reflexão sobre este tema na obra de
Matt Ross, que, acertadamente, não coloca um ponto final na questão, deixando-a
em aberto. Não é a função do filme discutir isto, a sua função reside em,
simplesmente, mostra-la; o que vem daí para a frente cabe a nós mesmos,
telespectadores. Viggo Mortensen -merecedor de um reconhecimento muito maior do
que possui- e sua turma nos brindam, de lambuja, com atuações fantásticas, que
juntamente com as locações lindíssimas mostradas ao longo do filme, são um
verdadeiro show.
Por nos incitar a pensar e
aprender, colocar o dedo na ferida, e ajudar-nos a fazer a autocrítica, ''Captain Fantastic'' merece cada segundo de seu tempo, além de um sincero e
gratuito ‘’obrigado’’, destinado, sempre, às grandes obras do cinema. Mas nunca
foi sobre cinema, sempre foi sobre a vida.
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