segunda-feira, 30 de outubro de 2023

Exhale

What is life but a daydream?
There I was when the last color sowed, 
And rage was no longer an ode: 
As awaking faces strode
Towards my faulty ticking heartbeat,
Could life be no more than a mere defeat 
Or a lore pack of daydreams? 

I daydream about the last dance at the shore, 
Smelling the seaside's hoar, 
But tides tell no lies: those a roars.
No fool, embrace the sea for good:
As the waves lack mood, 
Shall we dance as we soar.

I daydream about the life of the infant one:
Angelical witchcraft blessed by the sun:
Reality meets sanity with stun,
And, ya, miracles by true names -
Infinite laughter, wrath with no claim. 

I daydream about mountains.
Have they not been the sacred silence of dream?
No higher than the peak,
And no concessions, indeed: 
Restful sand and slashing wind, 
Might they find an embrace by the rest of me.

Now memory shall be no more
I will go gently to the tore
With galant sights of old seams
And a pack of soared daydreams.



sábado, 23 de setembro de 2023

Abovyan 21

Ali na Abovyan,
estive a sentar. 
Enquanto buzinas e roncos incessavam,
Pairava junto a mim um cartaz de filme de Komitas.

Três velas foram acesas,
quando o arguto altar mordiscou a mim:
"A este sítio nada derruba, 
Astvatsatsin" 

Pensei em cantos meus e não-meus, 
no khachkar agora no bolso, 
nos olhos daqueles que por cá passam e hão de passar, 
nas montanhas de Artsakh ou acolá, 
e nos Santos em eterno repouso. 

Se a terra sozinha tantas vezes tremeu e hoje o metrô também o faz, 
a Papoula da memória, como a do(s) Monte(s) que nunca deixou(ram) de estar, concorda:
a este Sítio nada há de derrubar.

Ali na Abovyan, acho que ouvi:
"Em meio aos muros, árvores ainda crescem,
já que a existência não está quanto mais ao topo, 
mas quanto mais profunda a raiz."

(Escrito em novembro de 2021)

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There at Abovyan,
I was sitting.
While horns and snoring went on and on,
a Komitas' movie poster by me kept on.

Three candles were lit,
as the sensitive altar nibbled at me:
"Nothing can tear this place down,
Astvatsatsin".

I thought of songs of mine and not-mine,
the khachkar now in my pocket,
in the eyes of those who pass and will pass by,
in the mountains of Artsakh or close,
and the Saints in eternal repose.

If the land alone has trembled so many times 
and nowadays' subway seeks same might,
the Poppy of memory, like that one of the Mount and Montes who never ceased to be, yet vows:
"nothing can tear this Site down".

There at Abovyan, I guess I heard stood:
"In the midst of the walls, trees still grow,
because existence is not the higher up you go,
but the deeper the root."





terça-feira, 18 de julho de 2023

Porfiado

Vuela:
Emancipación, enmudeció el color
El cielo engrasado un pajarito cortó
Las plumas hacen la rima, dijo inocente palomita
Y el viento, informan las alas, el tiempo sublimó

Golpea el sol a la nube: ¡vive un presente memorioso, pibe!
- Marchar y marchar hacia el futuro imparable,
Canarios deciden, 
Que se impone olvido acceptable 

Bajó un pajarito, porfiado hizo ruido:
Quien maculado sobrevive?
Cuántos latidos se le permite al corazón entero? 
Me mira a mí y sonríe: 
por naturaleza dejó sus pasos en el sendero

Bajó un pajarito, helado al suelo, cantó 
Cuál es el precio del olvidado
Y a la vida, una feria de recuerdos, guiñó
Que el pago es todo lo dejado:
el existir entero, en tus brazos quedado.

sábado, 8 de julho de 2023

Bipolar

Marcos nunca tinha ouvido falar da condição de Seu Gibran até que o conheceu pela primeira vez. No elevador, enquanto subiam para o almoço, sua namorada, Ieda, lhe informou:

- Então... O pai é meio bipolar...

Marcos interrompeu:

- Mas ele toma lítio?
- Não é bem isso... Enfim, não comenta nada sobre política.

Entraram na casa, a mesa já estava posta: Seu Gibran, à ponta, já segurando um garfo; e Tadeu, na outra, o filho mais novo.

Dona Eulália, a matriarca, ia dando as boas vindas, quando ouviu um grito, de Seu Gibran:

- No tempo da ditadura, à essa hora a louça já tava até limpa.

Todos se sentaram rapidamente: parecia um recado. Marcos sentiu-se mal pelo atraso de 10 minutos, mas a marginal estava de matar. Tentou puxar qualquer assunto com Seu Gibran, o mais longe de política possível:

- Então, Seu Gibran, o senhor gosta de cachorro?
- Só daqueles que farejam droga e prendem esquerdista na universidade. Baita antro de maconheiro...

Ieda deu um sorrisinho. Eulália tentou puxar assunto, Tadeu manteve-se mudo.

- Eh, então, Marcos... O que você faz?

Seu Gibran interrompeu:

- Vive mamando no Estado, claro. Percebi na hora que entrou.

Mais um silêncio, cerca de cinco minutos. Marcos ainda estava em choque quando Seu Gibran puxou-lhe o braço:

- Piá, o que tu achas do coletivismo proletário?
- Bom, eu...

Ele não conseguiu completar a frase sem novamente ser interrompido:

- As condições pensadas por Lênin estão se adequando ao Brasil. A revolução é inevitável.

Marcos não conseguiu mais falar naquele almoço, só sorrisinhos e risadinhas. O pavê ficou para depois. Depois Ieda lhe explicou: seu pai era um bipolar político. Ele assumia posições de esquerda e direita em certos períodos.

Ieda listou exemplos: uma vez Seu Gibran filiou-se ao PFL e disse que brizolista só servia para alimentar mosca, em uma convenção do PTB. Em outra, defendeu em uma praça, aos berros, a necessidade do Estado mínimo. Quando alguém lhe perguntou quanta gente caberia nesse Estado, argumentou:

- Um carteiro, um leiteiro e um comediante. O resto é queimar dinheiro.

Variava: um dia saiu de casa de terno e voltou de macacão e chave de fenda na mão. Era período de Páscoa e Tadeu perguntou-lhe do chocolate:

- Chocolate é distração burguesa para que o proletariado não se foque em seu destino manifesto.
- Mas, pai, todo mundo na escola ganhou ovo... - respondeu um tristonho Tadeu.
- E um revolucionário é todo mundo?

Ao invés disso, Tadeu ganhou, de Páscoa, um manual de como construir barricadas em rodovias.

Por falar em ovos, uma vez dona Eulália fazia omelete quando Gibran, lentamente, por trás se aproximou:

- E esses ovos? Nunca leu "A Revolução dos Bichos"? Ah, então você está do lado dos porcos, né?

Houve um período em que ninguém aguentava mais. Gibran ia ao psicanalista porque só podia ser coisa para Freud explicar, pensava Eulália. Mas, na maior crise, quando seu marido disse "só no Brasil" pela 45° vez em uma única manhã, ela chutou a porta do consultório do doutor Mantovan e disse:

- Olha, doutor: ou você deixa o Gibran normal ou eu te levo para morar lá em casa.

O doutor olhou pacientemente, mexeu na barba, ajeitou os óculos, acomodou-se em sua poltrona e proferiu:

- A senhora já contemplou o quão profundo é o significado da palavra "normal"?

Gibran largou a terapia. Eulália decidira que ia ser assim até o dia em que o esganaria. Deixou a família toda sabendo - inclusive seu próprio marido, que não deixou de proferir um lacônico "estão vendo quais são os métodos da esquerda?".

Dois meses depois daquele almoço, e sem nenhuma notícia de casa, Ieda achou que o pior já tinha acontecido. Telefonou-lhes e Tadeu atendeu:

- Você não vai acreditar. O pai parou.
- Assim do nada?
- Quer dizer, agora ele não troca mais o lado político, nem fala mais de política, na verdade. Agora ele troca de time. Esses dias disse que a zaga do Pelotas "não dá" e disse que quando "era piá, aí sim, o Pelotas tinha zagueiro que sabia cabecear’’.
- Mas ele nem gosta de futebol!
- Exatamente - respondeu Tadeu, aparentando contentamento.

Todos acharam uma troca justa.

Felino

Roger não passava no apartamento dos pais há semanas. Mas naquela quinta de manhã decidiu ver como as coisas andavam antes de partir para o trabalho. Encontrou a mãe sentada à mesa da cozinha, fazendo palavras-cruzadas:

- Tomou café sozinha, mãe? Cadê o pai?

Nem recebeu um olhar de volta:

- Ih, nem fala. Acordou felino hoje. Tá lá no quarto, fechado.

Roger estranhou, decidiu dar uma olhada em seu pai, apesar do aviso. Não estava preparado para o que viu e ouviu: um quarto, completamente escuro, um rugido ensurdecedor e olhos amarelados vindo raivosos em sua direção.

Desesperadamente, fechou a porta e correu até a cozinha. Aos berros, voltou a interpelar sua mãe:

- Mãe!! Quando tu disse que ele acordou "felino" eu pensei que tivesse acordado, sei lá, com a língua afiada. Mas não, pelo amor de Deus, que ele tinha virado uma ONÇA!

A mãe calmamente retrucou:

- Ah, língua afiada esse aí tem desde 1957...

Roger não se continha:

- Você não tem noção do que está acontecendo? Ele virou um animal selvagem!

- Animal selvagem? E quem quebra todo o jogo de pratos do vó Lourdes porque a geleia tá no pote errado é o que?

Silêncio de dois minutos:

- Então tu não tá nem aí? É isso? Vai deixar teu marido há 50 anos assim? Eu preciso de uma água...

A mãe levantou-se, deu um copo de água gelada a Roger, e o posicionou numa cadeira:

- Veja bem, meu filho. Eu falei com a Neuza, que falou com a Ivane, que falou com o fisioterapeuta dela. É só largar um 1 quilo de alcatra três vezes ao dia e deu pra bola.

- Meu Deus do céu, mãe... - Roger, ainda em choque.

- Olha, pra ser sincera, eu nem vejo muita diferença... E agora ele me dá até menos trabalho.

Roger fitou-a, rapidamente, como se tivesse um ás na manga:

- E se ele sair do quarto? Daí tu tá morta!

A mãe riu-se:

- Teu pai? Sair do quarto? Ele só foi ao teu batismo porque naquele dia a gente ia almoçar fora.

sexta-feira, 10 de março de 2023

O Representante

Fazia lua cheia no dia em que ele nasceu. Parto normal, nenhum dos fazendeiros punha as mãos em algo que nunca haviam antes feito muitas e muitas vezes. O último gemido ecoante pela fazenda, vindo da cadela Momó, expeliu-o para o mundo. Aquilo não era algo de se ver: quando os fazendeiros se recuperam do choque, deram um síncrono pulo para trás e se benzeram sem parar. Dona Ertrudes foi chamada para ver, enquanto um dos caseiros carregava sua escopeta para o assassinato: era o demônio. Ertrudes interveio quando a arma já lhe estava mirada na cabeça: padre Atílio precisava ver aquilo, porque só a voz divina podia, afirmava ela, dizer ‘‘o que é milagre ou o que é obra do cramunhão’’.

Padre Atílio chegou pela manhã e viu o recém-nascido. Antes de assustar-se, pensou consigo ‘‘bem que ele já tem uma bela cauda para um filhote’’, e depois se assustou. Uma reza coletiva entre ele e todos da fazenda foi convocada em volta do ‘‘monstro ou criatura’’. Depois de horas de terço e oração, padre Atílio disse que os propósitos de Deus são muitas vezes ‘‘borrados’’ para que possamos corrigi-los e, tão logo, ele oraria por orientação divina. A ordem, então, era não matar o menino, ou filhote; já que ele tinha tronco de cão e cintura e pernas de homem. Contudo os fazendeiros não pareciam tão pacientes para os horários de trabalho de Deus: aquilo deveria ser eliminado porque claramente era o ‘‘anticristo’’. Um deles até perguntou ao outro:

- Mas tu sabe o que é anticristo?

- Não, só sei que é coisa do ‘‘cramunha’’. E o ‘‘cramunha’’ nóis extirpa.

- Verdade – concordou o outro - e nóis é exército de Deus.

- Amém, irmão.

- Amém.

O plano estava pronto. Quando Ertrudes dormisse, eles fariam o serviço. Assim que calou a noite, entraram no galinheiro com suas espingardas, mas nada encontraram: o bebê-cachorro havia sumido.

Muito tempo se passou enquanto ele crescia escondido no seminário da cidade. Recebeu educação em português, latim e grego por parte de padre Atílio e, quando a calada da noite batia, o cura o levava para passear. Ninguém podia suspeitar de sua existência, se não Atílio e ele estariam em mais lençóis: o padre seria certamente excomungado por abrigar, por tanto tempo, o ‘‘filho do capeta’’ e o ‘‘filho do capeta’’, por sua vez, iria para a fogueira. Portanto, pode-se imaginar seu desespero quando Atílio não apareceu na segunda-feira de manhã cedo; é claro que ele sentia falta do osso que sempre ganhava de presente, mas a ausência era o que mais o consternava.

Depois de uma semana sem presença do padre, em uma madrugada silenciosa, ele ouviu o ruir da porta do calabouço e, enquanto lambia sua pata, fitou-a: Dona Ertrudes, segurando um cobertor longo e uma grande vela:

- Vamos embora, Focinho.

Seu uivado silencioso recebeu a resposta indevida:

- Padre Atílio faleceu. Temos que te tirar daqui.

Sentiu vontade de uivar alto, para que o mundo ouvisse seu choro pela perda de seu único pai, mas Ertrudes tinha pressa: envolveu-o na coberta, conduziu-o pelos fundos do calabouço e o empurrou para o porta-malas de uma caminhonete quando mais nada se podia ver, tamanho o breu daquela noite.

Acordou a leves tapas no focinho, debaixo de uma grande lona de circo:

- Acorda, aberração.

Seus olhos, ainda embargados de sonolência, não conseguiam muito bem eliminar o desfoque em sua vista, mas notou, ao olhar para cima, um homem alto e magro:

- Me chamam de Sinforoso, eu mando nesse casebre aqui. Cê ainda vai dar muito dinheiro pra nóis.

E assim foi. Sinforoso logo colocou ‘‘Focinho’’ como atração ao lado da Monga e do trem fantasma. As pessoas passaram a lotar o circo a cada cidade em que ele passava para ver o ‘‘Verdadeiro Lobisomem (com direito a uivos para lua e autógrafo da pata)’’ e saíam estupefatas, descrentes ou raivosas:

- É uma fantasia – disse uma vez um professor universitário.

- É assustador. Eu nunca mais saio em lua-cheia – disse uma vez uma criancinha na fila do algodão doce.

- É o ‘‘Coisa Ruim’’. O fim está próximo – disse uma vez uma senhorinha.

Tudo isso era música para os ouvidos de Sinforoso – da caixa-registradora ao computador, uma nova entrada. Não obstante, alguns tinham planos para Sinforoso: depois de uma temporada bem-sucedida no interior mineiro, membros de um partido de relevância puseram as cartas – e dinheiro – em sua mesa.

- O peludo é o que partido precisa para alavancar de vez.

Sinforoso era viciado no lucro que tinha com o número do ‘‘peludo’’ mas sabia quando era o momento de sair de cena: aquilo era muito mais do que poderia fazer em duas temporadas, e ‘‘logo as crianças vão querer algo mais chocante’’, pensou consigo. ‘‘Focinho’’ foi então vendido para os membros do partido, que, primeiro, cortaram seu pelo, escovaram-no, e depois puseram-no num terno feito sob medida.

Foi sucesso por onde passou: ‘‘o cachorro engravatado que vai mudar o Brasil’’, gritavam os animadores dos comícios, nos quais ele basicamente latia e era ovacionado pela população clamante por mudança. Aos poucos, galgou tamanha popularidade que nas eleições daquele ano tornou-se o deputado federal mais votado da história. As pessoas diziam ser ‘‘voto de protesto’’, mas, na verdade, ninguém resistia ao encanto de um cachorro; digo, homem-cachorro, de terno. Na Câmara, foi notícia mais de uma vez pela mídia nacional por propor projetos vistos como polêmicos, tais como ‘‘castração química para quem castrasse um cachorro’’; ‘‘legalização e direito à poligamia’’; e ‘‘prêmio a quem toda sexta-feira lambesse o próprio pé’’. Tornou-se um ‘‘homem-cachorro’’ muito popular entre o eleitorado nacional, ainda que divisor por natureza – as ONGs pelos direitos dos gatos geralmente repugnavam suas declarações.

Um dia, o presidente do partido bateu em sua porta:

- A gente vai te lançar pra presidente.

Entrou na eleição como um outsider considerado honesto, apesar de polêmico, e com um apoio popular significante. Esperava-se, todavia, que as eleições fossem mais parelhas, afinal nunca um cachorro havia concorrido à presidência; porém, o Brasil caiu de amores pelo slogan ‘‘Já viu algum cachorro roubar dinheiro? Vote consciente, vote cachorreiro’’. Pela primeira vez na história, o Planalto teve um ‘‘homem-cachorro’’ no comando e ele tinha uma missão dura pela frente: a crise econômica que acometia o país há anos. Sendo assim, na primeira semana de seu governo, convocou uma coletiva de imprensa para anunciar um ‘‘novo e revolucionário plano econômico’’ que faria o Brasil começar o próximo semestre ‘‘praticamente voando’’.

A coletiva esperada foi ligeira: ele simplesmente soltou um longo uivo e todos entenderam. No dia seguinte, a imprensa divulgou, em maioria: ‘‘um plano genial por sua simplicidade e ampla margem para criatividade’’ e ‘‘um ‘AUUU’ e a nação de volta aos trilhos’’. É claro, que parte opositora criticou justamente a extrema simplicidade do plano, mas para essa parcela o Planalto rotulou como ''pessoas sem fé no Brasil’’.

No entanto, apesar do aparente sucesso do plano econômico no curto-prazo, sua presidência durou pouco: no quinto mês de seu mandato, o Intercept captou imagens de uma orgia por ele promovida, envolvendo garotas de programa e cadelas de família, com direito a muito biscoito e ossos de ‘‘procedência duvidosa’’, dentro do Palácio do Planalto. Não adiantou se justificar, foi retirado do poder tão rápido quanto ascendeu. Depois disso, sumiu e dele pouco se sabe do paradeiro. Alguns dizem que se isolou para lados ao norte de Glicério e que agora vivia como membro de uma organização de cães às margens do Tietê, cujo lema era tão-somente ‘‘não conteste, só aceite e obedeça’’. Exatamente, dizem, o que todo o cachorro tem de fazer.

quarta-feira, 6 de julho de 2022

Transumância

Silvou a luz de mim
Eu, eu mesmo, que me espezinho a esmo,
A luz estima e não se apoquenta:
Diz que habituar-me-ei à mixórdia
D'um rasbicado rei,
Que ainda uma só palavra alenta.

Hei de habituar-me a ler-me
Pois a luz perece, 
Se antes as palavras a mim fosforeciam,
se aprochega o momento da exegese.

Já sinto saudades tuas sem ainda nem ter-te ido,
Pois já dantes foi escrito: 
És uma multidão de textos
rubricados, mutilados e inacabados