segunda-feira, 15 de maio de 2017

Paletas de Morango

Existem coisas cujo coração humano nunca se recupera. Uma delas, certamente, é o fim precoce de Penny Dreadful. Ainda tenho dificuldade em versar sobre este fato sem protuberar algumas lágrimas, e por isso que, a partir de agora, este texto falará sobre coisas alegres: paletas de morango. Paletas de morango são ‘’a sensação do verão’’ por onde passam justamente por trazerem o verão consigo. Artesanalmente feitas, com suavidade e frescor provindo da mais singela fruta de morango, elas são a melhor pedida para o calor acachapante que amaldiçoa o Brasil. Excluindo o leite, este elemento destruidor de qualquer picolé de fruta, estas paletinhas reúnem absolutamente ‘’tudo que há de bom’’ e não derretem facilmente, vejam só que maravilha. Com elas, você pode andar distâncias descomunais e não sujar nem um pouquinho da sua mão! Se algum dia, portanto, uma brutal sede lhe acometer, mande a cerveja, o refrigerante e a água (cruzes!) para o inferno e vá direto para a paleteria mais próxima de você. Com o peito inflado e exultante, jogue seus dinheiros com força no balcão de atendimento e urre, aos olhos marejados de emoção, com o horror mais avassalador: ‘’Uma paleta de morango, por favor!’’.

Histórias de amor podem, sim, começar em paleterias, com os protagonistas, obviamente, consumindo paletas de fruta. Acabou esta moda de que os heróis se conhecem em baladas e fumam cigarros para aliviar o stress, isto é bobagem passada. Os mocinhos e mocinhas aliviam a tensão de suas vidas se deliciando com a mais saborosa paleta de abacaxi e hortelã, com direito à de morango de sobremesa. Os próximos romances de Hollywood, segundo fontes, mostrarão relações que começam em paleterias, onde o casalzinho se conhece ou marca de se encontrar pela primeira vez:

- Mãe, tô saindo pra encontrar com o Phil, tá?
- Como assim, menina? Quem é esse?
- É aquele sujeito que conheci na paleteria, de cabelo penteado e barba feita.
- Ah, o do aeromodelismo, né?
- Esse mesmo!
- Onde vocês vão se encontrar?
- Na paleteria do Mark, mãe.
- Olha lá, hein, não vai me voltar pra casa doida de paleta de morango!  Se aparecer assim, não entra em casa!

Esta ‘’Nova Nova Hollywood’’ parece promissora, mas ela só existe por ser fruto da minha cabeça. Ela é um fruto de uma situação que não gostaria de enfrentar, ou seja, aceitar o fim de Penny Dreadful. Mas como é interessante a nossa capacidade de inventar e criar inúmeros subterfúgios e escapatórias apenas para não enfrentarmos a realidade, não é? Como é mais fácil imaginar um mundo de paletóolatras ao invés de discorrer sobre como é difícil aceitar que as aventuras de Vanessa Ives acabaram. Ainda mais complicado e derradeiramente sofrível é fazer isto quando nos parece absurdamente evidente de que ainda não era a hora do fim ou do enfrentamento. Aceitar a realidade como ela se apresenta é muito mais difícil do que comer paleta de morango e é por isso que ela assusta tanto. Mais difícil que isso, aliás, é ser obrigado a dar um passo à frente, como se ignorássemos que dali para frente as coisas ficarão cada vez mais para trás. Dar um passo, muitas e muitas vezes, é mais doloroso que uma caminhada inteira. Mais doloroso, com certeza, que uma mensagem genérica como esta, mas não menos verdadeira. Alguma coisa contra as paletas, depois de tudo? 

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