Existem coisas cujo coração
humano nunca se recupera. Uma delas, certamente, é o fim precoce de Penny
Dreadful. Ainda tenho dificuldade em versar sobre este fato sem protuberar
algumas lágrimas, e por isso que, a partir de agora, este texto falará sobre
coisas alegres: paletas de morango. Paletas de morango são ‘’a sensação do
verão’’ por onde passam justamente por trazerem o verão consigo. Artesanalmente
feitas, com suavidade e frescor provindo da mais singela fruta de morango, elas
são a melhor pedida para o calor acachapante que amaldiçoa o Brasil. Excluindo
o leite, este elemento destruidor de qualquer picolé de fruta, estas paletinhas
reúnem absolutamente ‘’tudo que há de bom’’ e não derretem facilmente, vejam só
que maravilha. Com elas, você pode andar distâncias descomunais e não sujar nem
um pouquinho da sua mão! Se algum dia, portanto, uma brutal sede lhe acometer,
mande a cerveja, o refrigerante e a água (cruzes!) para o inferno e vá direto
para a paleteria mais próxima de você. Com o peito inflado e exultante, jogue
seus dinheiros com força no balcão de atendimento e urre, aos olhos marejados
de emoção, com o horror mais avassalador: ‘’Uma paleta de morango, por
favor!’’.
Histórias de amor podem, sim,
começar em paleterias, com os protagonistas, obviamente, consumindo paletas de
fruta. Acabou esta moda de que os heróis se conhecem em baladas e fumam
cigarros para aliviar o stress, isto é bobagem passada. Os mocinhos e mocinhas
aliviam a tensão de suas vidas se deliciando com a mais saborosa paleta de
abacaxi e hortelã, com direito à de morango de sobremesa. Os próximos romances
de Hollywood, segundo fontes, mostrarão relações que começam em paleterias,
onde o casalzinho se conhece ou marca de se encontrar pela primeira vez:
- Mãe, tô saindo pra encontrar com
o Phil, tá?
- Como assim, menina? Quem é
esse?
- É aquele sujeito que conheci na
paleteria, de cabelo penteado e barba feita.
- Ah, o do aeromodelismo, né?
- Esse mesmo!
- Onde vocês vão se encontrar?
- Na paleteria do Mark, mãe.
- Olha lá, hein, não vai me
voltar pra casa doida de paleta de morango!
Se aparecer assim, não entra em casa!
Esta ‘’Nova Nova Hollywood’’ parece
promissora, mas ela só existe por ser fruto da minha cabeça. Ela é um fruto de
uma situação que não gostaria de enfrentar, ou seja, aceitar o fim de Penny
Dreadful. Mas como é interessante a nossa capacidade de inventar e criar
inúmeros subterfúgios e escapatórias apenas para não enfrentarmos a realidade,
não é? Como é mais fácil imaginar um mundo de paletóolatras ao invés de
discorrer sobre como é difícil aceitar que as aventuras de Vanessa Ives
acabaram. Ainda mais complicado e derradeiramente sofrível é fazer isto quando
nos parece absurdamente evidente de que ainda não era a hora do fim ou do
enfrentamento. Aceitar a realidade como ela se apresenta é muito mais difícil
do que comer paleta de morango e é por isso que ela assusta tanto. Mais difícil
que isso, aliás, é ser obrigado a dar um passo à frente, como se ignorássemos
que dali para frente as coisas ficarão cada vez mais para trás. Dar um passo,
muitas e muitas vezes, é mais doloroso que uma caminhada inteira. Mais doloroso,
com certeza, que uma mensagem genérica como esta, mas não menos verdadeira. Alguma
coisa contra as paletas, depois de tudo?
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