terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

O Maior Jogo de um Jogador

A maior partida que já vi de um jogador de futebol foi em 2007. Esqueça Messi, Cristiano Ronaldo ou Val Baiano, a atuação mais fantástica que já vi de um futebolista foi de Juan Roman Riquelme. Para minha tristeza, foi contra o Grêmio. 

A Bombonera estava empanturrada de hinchas, descontrolados, cantando cada vez mais alto os cânticos para seu amado Boca. Criou-se uma energia fantástica no estádio, com tudo que um fanatismo por um clube pede -inclusive uma chuva de papeizinhos azuis e amarelos que, literalmente, cobriram quase todo o gramado-, até Don Francis Ford Coppola tirou um tempinho para assistir à partida no estádio. A energia foi tão grande que, provavelmente, afetou Riquelme: ele moeu o Grêmio vivo. 

Nunca tinha visto um jogador jogar daquele jeito, era como se somente ele fosse o time, impossível de ser marcado, em um brilho criativo absurdo. Os defensores do Grêmio, tamanho era o brilhantismo de Riquelme, só faltaram ajoelhar e pedir misericórdia. A partida acabou três a zero para o Boca: Riquelme fez um gol, de falta por debaixo da barreira, e, se me lembro bem, estava no fuzuê dos outros dois (verdade seja dita, o primeiro foi irregular: Palacio, com visual padawan e claramente inspirado pela Força, estava impedido). É bem verdade que Mano Menezes ajudou Riquelme naquele dia, ninguém o marcava individualmente e o Grêmio ignorou a honrada tática da retranca, que é, todo mundo sabe, o grande momento do futebol. Deu no que deu. 

Na volta, no Olímpico, a direção do Grêmio fez o possível para propagar a fama de "imortal", que era possível acreditar, e mesmo com cinquenta mil pessoas amaldiçoando-o até à quinta geração, Riquelme destruiu o Grêmio novamente: dois gols e Boca campeão da Libertadores. Mas apesar das feridas e da partida em que balançou o barbante duas vezes eternamente na mente, o jogo de Riquelme que me marcou na memória verdadeiramente foi aquele na Bombonera. Foi um dia em que um só jogador levou uma torcida inteira nas costas, não sentiu peso algum, e ainda fez graça. Naquele dia, Riquelme não foi mais Riquelme, foi o próprio futebol, encarnado e materializado em um argentino cusparão. Azar de quem estivesse na frente (desafortunadamente, o Grêmio).

Contudo, os deuses do futebol-força, por mais que tardem, não falham, e o Grêmio teve sua merecida vendetta diante de Riquelme por meio das mãos, quem diria, do Brasil. Na final da Copa América de 2007, a seleção brasileira de Dunga -cujo o único deslize de sua magnífica carreira foi ter sido ídolo do Municipal, diga-se de passagem-, apresentando um futebol ríspido, sangrento (no bom sentido, claro) e horroroso (no ótimo sentido, evidente) humilhou a Argentina bailarina de Riquelme: 3x0, numa final épica. Por mais que Riquelme tenha me exibido a maior partida que já vi de um futebolista, o futebol-força é implacável e iria, cedo ou tarde, trucidá-lo. Não se brinca quando o assunto é trava de chuteira carcomida, bola mal-rolada e jogo truncado. Não se brinca.

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