A maior partida que já vi
de um jogador de futebol foi em 2007. Esqueça Messi, Cristiano Ronaldo ou Val
Baiano, a atuação mais fantástica que já vi de um futebolista foi de Juan Roman
Riquelme. Para minha tristeza, foi contra o Grêmio.
Nunca tinha visto um jogador jogar daquele jeito,
era como se somente ele fosse o time, impossível de ser marcado, em um brilho
criativo absurdo. Os defensores do Grêmio, tamanho era o brilhantismo de
Riquelme, só faltaram ajoelhar e pedir misericórdia. A partida acabou três a zero para o Boca: Riquelme fez um gol, de
falta por debaixo da barreira, e, se me lembro bem, estava no fuzuê dos outros
dois (verdade seja dita, o primeiro foi irregular: Palacio, com visual padawan
e claramente inspirado pela Força, estava impedido). É bem verdade que Mano Menezes ajudou Riquelme
naquele dia, ninguém o marcava individualmente e o Grêmio ignorou a honrada
tática da retranca, que é, todo mundo sabe, o grande momento do futebol. Deu no que
deu.
Na volta, no Olímpico, a direção do Grêmio fez o
possível para propagar a fama de "imortal", que era possível
acreditar, e mesmo com cinquenta mil pessoas amaldiçoando-o até à quinta
geração, Riquelme destruiu o Grêmio novamente: dois gols e Boca campeão da
Libertadores. Mas apesar das feridas e da partida em que balançou
o barbante duas vezes eternamente na mente, o jogo de Riquelme que me marcou na memória verdadeiramente
foi aquele na Bombonera. Foi um dia em que um só jogador levou uma torcida
inteira nas costas, não sentiu peso algum, e ainda fez graça. Naquele dia,
Riquelme não foi mais Riquelme, foi o próprio futebol, encarnado e
materializado em um argentino cusparão. Azar de quem estivesse na frente (desafortunadamente,
o Grêmio).
Contudo, os deuses do
futebol-força, por mais que tardem, não falham, e o Grêmio teve sua merecida vendetta diante de Riquelme por meio das
mãos, quem diria, do Brasil. Na final da Copa América de 2007, a seleção
brasileira de Dunga -cujo o único deslize de sua magnífica carreira foi ter
sido ídolo do Municipal, diga-se de passagem-, apresentando um futebol ríspido,
sangrento (no bom sentido, claro) e horroroso (no ótimo sentido, evidente)
humilhou a Argentina bailarina de Riquelme: 3x0, numa final épica. Por mais que
Riquelme tenha me exibido a maior partida que já vi de um futebolista, o
futebol-força é implacável e iria, cedo ou tarde, trucidá-lo. Não se brinca
quando o assunto é trava de chuteira carcomida, bola mal-rolada e jogo
truncado. Não se brinca.
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