O brasileiro adora uma
fila. Não adianta replicar, isso é uma verdade universal, tão verdade quanto a
lei da gravidade. Mas atenção, quando falo que adoramos filas, não estou
dizendo que admiramos a filosofia por trás de se alinhar um atrás do outro. Não,
estou falando de uma vontade subconsciente, inclinação nervosa, impulso
instintivo. Inclusive, tão pouco admiramos a filosofia das filas que sempre
damos um jeitinho de burlá-las, furá-las e tapeá-las. Eu, se fosse uma fila,
ficaria ofendida por ser tão maltratada.
Mas mesmo assim, a inclinação nervosa muitas
vezes fala mais alto que a irrefreável tentativa de escapar das filas. Bancos e
suas adoráveis agências são um excelente contexto: quase sempre, uma hora antes
da agência abrir, a fila, como um ser inumano, independente, e voraz, começa a
se formar, com a vontade feroz de aumentar seu tamanho.
- Ué, mas a agência não abre só daqui uma hora?
- pergunta um perdido para outro perdido
- Pois é, mas é por ordem de chegada - responde o segundo perdido, entrando na fila.
Gostamos tanto de formar filas neste tipo de situação que muitas vezes há fila para entrar na fila e gente com motivos mais variados para estar na fila:
- Pois é, mas é por ordem de chegada - responde o segundo perdido, entrando na fila.
Gostamos tanto de formar filas neste tipo de situação que muitas vezes há fila para entrar na fila e gente com motivos mais variados para estar na fila:
- Pô, cara, tô aqui na fila do banco, e você, tá fazendo o que? Ah, não, nem preciso resolver nada no banco não, só tava de bobeira e resolvi pegar uma filinha antes de ir pra fila do cinema - conversa Caio, ao celular.
E não é à toa que tem gente que guarda lugar em fila só para ganhar uma graninha, afinal, o país da fila também é o país da inventividade. Contudo, pensando com meus botões, cheguei à conclusão, depois de intenso raciocínio e dificuldade, que nossa adoração por filas só existe porque -rufem os tambores- não há atendimento proporcional à demanda! Então, é só as instituições arrumarem mais atendentes! Será que quando o ser humano inventou a roda ele sentiu a mesma sensação que estou sentindo agora? Que êxtase! Portanto, governo federal e demais instituições do Brasil afora, fico no aguardo pelo meu pagamento por tão revolucionária ideia. Só peço que, se alguém me enviar um cheque, não escreva "ao portador", meu cachorro adora compras supérfluas.
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