Eu simplesmente adoro algumas situações do cotidiano. Tenho uma espécie de deleite secreto em escutar a conversa alheia, principalmente quando ela é tão inocente quanto filhote de cachorro. Hoje, no ônibus, por volta das 07:30, três senhoras estavam sentadas próximas a mim: duas na frente e outra na minha esquerda. Na altura da 203 norte, um senhor, esbelto e altivo, adentrou o coletivo, com um sorriso de orelha à orelha. Olhou para a cobradora e lançou:
- Você gosta de Brasília?
A cobradora nem bola deu, voltou seus olhos para seu celular e fez que não era com ela. Levemente desapontado, porém não derrotado, o senhor de cabelos brancos repetiu a pergunta, dessa vez para uma outra senhora que estava sentada no local reservado aos idosos:
-A senhora gosta de Brasília?
-Eu nasci aqui, só morei dois anos em Aracaju...
Fez-se um leve silêncio (tirando, claro, o barulho natural do ônibus) e o senhor retrucou:
- Eu não gosto não.
- Por quê? - quase que em uníssono perguntaram as senhoras
- Porque o motor é na traseira - respondeu o senhor, com uma satisfação de quem ganha um Globo de Ouro por "melhor comédia".
Quase ninguém riu. As senhoras à minha frente ficaram perplexas com a piada do senhor, e a que estava à minha esquerda cochichou para a de minha frente:
- Ele tem que perguntar quem GOSTA de Brasília... - com um olhar furtivo de quem estava tirando o ás da manga.
- Olha, acho que ele fez uma piada... - respondeu a outra senhora, com um sorrisinho de canto de boca meio de educação meio de dúvida.
- Ah, tá - finalizou a senhora do meu lado. Daí então, voltou seus olhos descontentes para sua revista e sua respiração emburrada revelou que não tinha achado graça alguma da piada feita.
Enquanto isso, o senhor continuava a sorrir, enquanto dizia:
- Pera aí que já tô bolando outra!
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