''Perca-se'' (31/08/2013)
Madrugando intensas noites
em agonia
em ânsia
fitando de maneira obtusa
a porta.
não espero a razão do teu vir
só espero que venhas
e quando vens, vens bem
vens com calor
vens com afago
nada mais de temor
- a tua mão em minha cabeça
e minha face descansada em teu busto
o aperto de teu amor que me sufoca
mas que não mata, não machuca, não fere
e depois, teus lábios encostados aos meus
sentindo todo o bater de meus músculos.
meu coração recita
que
te amo, menina
amo-te
amo tu
escolhe a sentença!
e sim, essa é minha eterna promessa
- a cada segundo passo mais
estático
frenético
fanático
há como ser mais direto?
ainda que eu caminhe perto do abismo
que me perca nos azares dos vícios
que eu seja esmagado pelo ócio de meu choro
eu terei a ti,
minha graça
minha alça
e nunca hei de cair.
sonho-te contigo ao meu lado
abobo-me a cada sorriso teu
seguro-te a mão
fazes e torna a fazer
o amor mais amor
assim,
ao infinito eu perpetro:
que eu continue um tolo,-amando-
um pobre antiquado
em que mundo podia ser eu infeliz?
se a ti tenho,
e ao amor tenho?
aquele que perde-se amando
se encontra
aquele que ama perdido
feliz é perdido
perco-me já perdido
apaixono-me já amando
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''Gaucheando'' (16/07/2013)
Tomou-lhe o cálice d'amargura
Em forma de camafeu
Abraçou do coração as gasturas
Compôs um último soneto
Mixando ao cianeto
e bebeu.
Passou pelo momento da clarividência
Os olhos umedeceram sem ver
passou-lhe o sopro da essência
e todo o campo do querer.
Sentou-se em sua poltrona macia
repousou a cabeça
lembrou-se da estrela que luzia
e do que madre Ju já lhe dizia.
O vento do norte soprou em si
segurando a vida pela última vez
e com o corpo tomado pelo frio
seu sorriso se desfez
simplesmente fechou os olhos e deixou estar
como tinha de ser e sempre será