Trocando de canais, numa
manhã destas, me deparei com um par de jornalistas discutindo um assunto
intrigante: o número áureo do rosto do Rodrigo Hilbert. A discussão,
absolutamente instigante, me tencionou a pensar a respeito de padrões de beleza
(e como estes são vendidos para nós). Desde a mais tenra idade, aparentemente,
a maneira com que vemos a beleza alheia nos é moldada, e, metaforicamente,
implantada. Ademais, se assim não fosse, porque o loiro de olhos azuis seria
tão amado desde o berçário? Se você não acredita em mim tudo bem, nem eu
acredito em mim de vez em quando, mas vejamos alguns causos que talvez
corroborem tal tese:
Primórdios dos anos 2000 (ou
segunda metade da primeira década destes –depois consulto a agendinha-):
Conversas alheias entre jovens pré-adolescentes numa sala de aula de um colégio
brasiliense. Assunto: beleza humana e seus agregados. Gritaria cada vez mais
alta assim que um nome masculino novo é lembrado:
- Kayky Britto! (Nota do
autor: acredite, ele era a sensação da época).
- Bonito, mas ninguém barra
o Thiago Lacerda.
Resultado: ninguém chega a
um consenso. A decisão precisa de um voto de minerva. Alguém diplomático deve
ser achado:
- Daniel, quem é a mulher
mais bonita que você acha? (primeiro, obviamente, uma pergunta sutil, para
ganhar simpatia).
- Fácil. Winona Ryder. –
respondi.
- Ahn? Quem? – um coro de
vozes femininas ressoou na sala esvaziada pelo intervalo.
O que veio depois foi por mim
esquecido (mentira, decidi ocultar por questões de que ninguém conhecia,
desafortunadamente, a eterna Kim de Edward Mãos-de-Tesoura, e isso não merece
citação). Chegamos à parte que interessa:
- E homem? – me perguntaram,
novamente.
- Pierce Brosnan – respondi
de peito estufado e orgulhoso. Tem alguém mais bonito e charmoso que o próprio
007? (Segunda nota do autor: Brosnan que, aliás, foi o melhor 'Double-O-Seven'.
- Daniel, deixa pra lá – uma
delas me contestou-, a gente tava falando de gente viva, tá?
Acredito que depois desta, a
minha fama de estranho deve ter aumentado. Mas, sinceramente, o eterno Bond
irlandês é muito mais bonito que o Thiago Lacerda, não? As meninas descartaram
minha opinião e também não conseguiram fazer o desempate com os outros meninos,
que ficavam repetindo que ‘’homem não acha homem bonito’’. Gosto de pensar que
até hoje elas não conseguiram decidir, levarão consigo o fardo desta indecisão
para sempre. Esta historieta só está aqui porque ela mostra um ponto: podemos
ter discordado quanto à beleza de homens diferentes, mas, ainda assim, estávamos
defendendo o mesmo padrão desta. Ora, o Thiago Lacerda pode não usar smoking,
portar pistola assassina e pedir Vodka Martini (‘’batida, não mexida’’) mas ele
é só uma versão mais nova do padrão de beleza do Pierce Brosnan. Portanto, no
fim das contas eu era tão influenciado quanto a gangue de meninas que não
conseguiam decidir quem era ‘’o cara’’. Talvez, a única vez em que vi uma
pessoa sair deste padrão foi, também na escola, quando um amigo trouxe o
cadáver de uma cigarra para aula de Ciências da segunda série. Uma das meninas
gritou:
- Eca!!! Que coisa horrível!!!
Aquilo o irritou
profundamente, com ele não tinha ‘’padrão’’ e, afinal, ele também era um amante
da natureza. Encheu o peito de raiva (e ar) e metralhou:
- Acho a cigarra mais bonita
que você.
Vale ressaltar que alguns
anos depois ele e a mesma menina tiveram um affair,
ou como dizem os catedráticos, fizeram uma ‘’baguncinha’’. Talvez ele tenha
sido doutrinado pela dinastia dos padrões de beleza, não sei ao certo, mas o
fato foi que ela se tornou muito mais bonita que qualquer cigarra.
Prometo refletir a respeito,
quem sabe eu me renda também e reconheça que tudo é padrão de beleza, mas, por
enquanto, o idealismo não me permite desistir ainda. Por agora, evito a
polêmica, já que muitas já tenho em minha vida, como, por exemplo, o dia em que
o Grêmio jogou uma final de Libertadores com Tuta no ataque. Aquilo sim -disso tenho
certeza-, estava longe de obedecer a qualquer padrão de beleza.